A vida no campo sempre foi difícil. Trabalhar na terra, para além da tremenda exigência física, obriga a muito engenho.
Como sabemos a nossa orografia ajuda muito pouco. A mecanização da agricultura foi avançando a conta-gotas ao longo dos anos.
No tempo em que praticamente não havia máquinas nem outros equipamentos modernos a solução era olhar para o que estava à volta. Para o que a natureza dava e ajudava a criar e a improvisar.
As ferramentas eram criadas por ferreiros na zona. Eram eles que construíram nas suas forjas, as foices as pedoas, as enxadas e até os garfos gigantes que eram sobretudo usados para limpar os palheiros. Era tudo muito artesanal. Era com estes instrumentos aos quais se juntavam uns cestos de vindima feitos artesanalmente com vimes e umas sacas de lona que se fazia grande parte da lavoura.
A terra era toda cavada e mondada à mão. Nesse tempo não havia herbicida para queimar a erva. O exigente trabalho manual resolvia tudo. Na altura das colheitas não existiam as práticas caixas de plástico que há hoje. Era tudo à base de cestos feitos de vime ou de canas. Eram de vários tamanhos e para várias funções. Uns para a apanha, outros de maior porte para o transporte mais longo até às lojas ou arrecadações onde eram amontoadas as batatas ou as semelhas.
Para tirar o máximo rendimento das plantações recorria-se ao material que havia por perto. Para sustentar o feijão recorria-se às canavieiras que existiam normalmente nas margens dos terrenos. Quando ainda estavam verdes e em fase de crescimento davam comida para o gado. As suas folhas longas eram muito apreciadas. Estas canas para além de servirem para o feijão, também serviam para levantar a vinha. Era com estas canas que faziam as pequenas estacas que eram usadas para evitar que os cachos das uvas tocassem no chão. Nos dias de hoje estas canas são consideradas infestantes que estragam os terrenos.
Noutros tempos quase não existiam os adubos sintéticos e a diversidade de produtos para diversos tratamentos das plantas que há hoje. Nessa altura era tudo mais natural quase biológico. A terra era adubada com o que se retirava do palheiro das vacas ou do chiqueiro do porco. Apanhávamos mato para ser usado como cama para os animais, mas que depois de alguns dejetos em cima se transformava em adubo usada nas mais diversas plantações.
Junto aos palheiros era frequente ver-se amontoados de adubo à espera da plantação seguinte. O adubo mais húmido - ou seja com mais dejetos de vaca - também era usado nas lavagens quando se regava o feijão. Junto à levada à medida que a água de rega ia passando, íamos lavando aquele adubo que transformava a água numa cor muito esverdeada, mas que era considerado um óptimo fertilizante natural sobretudo para o feijão e para a rama. Nos dias de hoje são tarefas quase impensáveis. A química encarregou-se de criar uma série de produtos com outra eficácia, mas quiçá muito menos amigos do ambiente e até da saúde humana. Outros tempos.
Nessa altura eram frequentes as idas à serra para recolher diverso material: paus compridos para estacas, lenha e carradas de feiteira para as mais diversas utilizações.
Feiteira utilizada para a “cama” do gado e também por alturas do Natal era com o combustível usado para queimar os porcos. Nesse tempo não existiam os maçaricos a gás como há hoje. Era também com a feiteira que se protegiam as mesas e locais improvisados onde a carne depois de cortada ficava a descansar.