Nesta quadra, deixo-vos com as prendas ao Menino:
Ouro: Acolher sem nos perdermos
Por estes dias tive oportunidade de estar numa receção de embaixadores europeus que visitaram a Região. Não pude deixar de notar que, nos momentos de espera ou nos passeios informais entre atos mais protocolares, os diplomatas tendiam a aproximar-se e a trocar impressões sobretudo com os congéneres cujos países partilham fronteiras ou heranças culturais. Falamos de diplomatas de topo, pessoas com elevada cultura clássica, naturalmente integradoras e curiosas em relação ao que lhes é exótico, por vocação e por profissão.
Ainda assim, esta é a natureza humana. Tendemos a sentir maior empatia pelo que conhecemos, pelo que partilhamos, pelo que nos é próximo e familiar. Isso não invalida a vontade de explorar, aprender ou descobrir. Esse é o momento do “Espanto”, usando uma palavra que D. Tolentino eternizou para a Madeira. O problema é que não conseguimos viver permanentemente espantados. Gostamos de nos surpreender, mas gostamos ainda mais do sabor de casa, da nossa organização social, da nossa zona de conforto. Por muito que a critiquemos, ela é o nosso lugar.
Daí a importância de acolher, sem deixar que esse acolhimento desvirtue o nosso modo de vida. Acolher, incluir e até adaptar costumes de outros povos que passam a conviver connosco, como sempre se fez num país aberto como Portugal, mas sem perder identidade. Qual o limite desse acolhimento multicolor? Não está na rejeição aos gritos, nos insultos ou na política rasteira, nem na ideia igualmente simplista de que os países não têm identidade e tudo se resolve num internacionalismo ideologicamente gasto.
Talvez o melhor exemplo esteja no bom senso constitucional: os limites materiais da Constituição, as chamadas cláusulas pétreas do artigo 288.º. A Constituição pode mudar, mas não pode deixar de ser esta Constituição para se transformar noutra coisa. Também Portugal pode acolher e integrar, mas não ao ponto de deixar de ser Portugal.
Incenso: as presidenciais mais decisivas
A campanha presidencial começa a aquecer e noutro momento aprofundarei ideias. Para já, há uma questão essencial: evitar que exista uma segunda volta entre Ventura e o Almirante Gouveia e Melo, porque aí nem sequer haverá verdadeira escolha. Estará em causa o regime, a estabilidade política e, inevitavelmente, as repercussões económicas e sociais.
No meu espaço político, o debate divide-se entre a visão institucional, serena e experiente de Luís Marques Mendes e o rasgo de modernidade e arrojo de Cotrim de Figueiredo. É, em grande medida, uma clivagem geracional, ainda que saibamos que ao Presidente da República não cabem funções executivas.
O próximo mês será esclarecedor. Voltarei ao tema, certamente também eu mais esclarecido.
Mirra: O centralismo de Antanho
Passou quase despercebida no debate do Orçamento uma tirada do mais recente “reforço” importado do Partido Socialista. Além de ficarmos a saber que foi disputado a nível nacional por partidos de todo o espectro político, do Bloco de Esquerda ao CDS, Gonçalo Leite Velho deixou uma frase que diz tudo sobre o estado atual do PS: “Sabe o Governo da República que a Madeira pretende utilizar 13 milhões das transferências do Estado para investimento em campos de golfe?”
Colocando de parte a discussão de fundo, se devemos ou não investir em campos de golfe e se estes são ou não instrumentos âncora para zonas despovoadas e extremamente sazonais do território, matéria já amplamente tratada por Miguel de Sousa, o essencial está no que a frase revela: o centralismo de antanho.
Excluídos os Projetos de Interesse Comum (PIC), não existe consignação das transferências do Estado para investimento. Decidir onde, quando e como aplicar essas verbas é uma prerrogativa autonómica inalienável. Ainda assim, o Partido Socialista insiste numa visão centralista, importando quadros e discursos de quem nunca compreenderá plenamente a realidade insular. Encarar o Estado central como tutor da autonomia é algo que o madeirense nunca aceitará, e que o PS, ao que parece, dificilmente compreenderá. E, por isso, mirra...
Feliz Natal, e cuidem do fígado!