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Artigo de Opinião

Consultor

27/09/2023 08:00

Estes partilham online, cada vez mais, os detalhes íntimos das suas vidas profissionais. O expoente máximo dessa tendência é a hashtag #worktok que, com mais de 2 mil milhões de visualizações no momento em que escrevo este artigo, está a transformar a rede social num autêntico fórum para discussões relacionadas com o trabalho.

As pessoas estão a explicar as suas trajetórias profissionais, a apresentar as suas rotinas diárias de trabalho, a exibir a sua roupa/farda, a falar sobre os seus empregos de sonho, a transmitir em direto a sua demissão (#quittok) e a iniciar tendências que se tornaram comuns. Mas não se tratam de embaixadores de marcas contratados ou de influencers de empresas que são pagos para partilhar as suas experiências no local de trabalho. São colaboradores comuns que oferecem amostras não autorizadas dos seus ambientes de trabalho. Os seus vídeos são divertidos, mas também ajudam os colaboradores a sentirem-se reconhecidos e a darem sentido às suas vidas profissionais.

O #worktok surgiu porque as pessoas começaram a utilizar o TikTok numa altura de grande incerteza no local de trabalho. Os novos modelos de trabalho remoto/híbrido criaram um vazio ao nível da mentoria e do sentimento de comunidade de trabalho. Se estivermos a trabalhar a partir de casa, não temos aquele momento de convívio e podemos não ter colegas de trabalho com quem somos próximos. Estas vicissitudes têm levado os profissionais a procurar essa validação e sentido de pertença via online, o que explica a proliferação do movimento #worktok.

Além do aspeto da comunidade e da partilha de conhecimento, as pessoas necessitam de dar voz aos seus dilemas diários. Estão sob muita pressão e querem falar sobre o assunto, evitando o isolamento. Contudo, o conteúdo do #worktok não é privado, a menos que um utilizador opte por bloquear a sua conta. Os empregadores têm acesso aos vídeos dos seus colaboradores, se optarem por procura-los e os resultados podem ser perversos, como aconteceu no caso de Tony Piloseno, reportado pela BBC. Este colaborador da Sherwin-Williams postou no TikTok sobre as suas experiências misturando restos de tinta para demonstrar o processo e criar novas cores, chegando a alcançar a 1 milhão de seguidores. Porém, o empregador lançou uma investigação sobre a sua conta TikTok e despediu-o por má conduta.

Ainda assim, especialistas e criadores de conteúdo concordam que o #worktok continuará a prosperar apesar dos riscos inerentes, porque está relacionado com questões de identidade e autonomia. Se, numa fase inicial, era visto como uma espécie happy hour onde as pessoas se reunem, riem, partilham experiências e desabafam, a autenticidade, a capacidade de se relacionar e de contar histórias tornaram-no num movimento poderoso que pode ajudar as pessoas a sentirem-se validadas. À medida que prolifera, as empresas, por muito reticentes que estejam, podem não ter outra opção senão aceitar o facto de alguns dos seus colaboradores se juntarem à conversa. Afinal de contas, o impulso de partilhar as nossas vidas nas redes sociais tornou-se o status quo e o trabalho continua a ser um elemento central do nosso dia-a-dia. Se nos habituámos a gravar e a partilhar coisas, porque não haveríamos de partilhar estes momentos significativos?

Parafraseando Séneca: "Possuir um bem, sem o partilhar, não tem qualquer atrativo."

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