A quadra natalícia representa um momento de união com a família e amigos. Talvez por essa mesma razão, é também uma das ocasiões em que muitos de nós se sentem especialmente sós. Porque perdemos alguém que nos é querido, porque estamos longe de casa, seja essa mesma casa uma pessoa ou local, ou simplesmente pelo isolamento cada vez mais comum que sentimos no dia-a-dia.
Efetivamente, a solidão atingiu proporções epidémicas. E se na esfera pessoal é uma questão bem assente, na esfera profissional não é exceção. Desde a diminuição da produtividade ao aumento do stress e aos efeitos adversos na saúde física e mental, a solidão dificulta a colaboração, a criatividade, a inovação e o sucesso organizacional global. Num inquérito da Gartner (2024), apenas 29% dos trabalhadores em todo o mundo se sentem satisfeitos com as interações que têm com os seus colegas, revelando que a proximidade por si só não resolve o problema, pois os trabalhadores em modo presencial são os menos satisfeitos.
Neste contexto, as organizações devem adotar medidas para mitigar a solidão, tal como fariam com qualquer outro fator de risco. Tais iniciativas incluem gerir as interações no seio do trabalho, identificando necessidades de conexão e proporcionando oportunidades estruturadas para os trabalhadores (re)aprenderem a interagir com os colegas. Outras iniciativas estendem-se ao horário pós-laboral, como compensar os trabalhadores por participarem em atividades sociais e oferecer dias de folga para atividades de voluntariado.
Mas mesmo que a liderança, as políticas e a cultura organizacional ajudem a diminuir os sentimentos de solidão, cabe a cada um de nós o papel preponderante na gestão da nossa própria saúde mental. Neste âmbito, a Forbes (2024) partilha um conjunto de dicas para ajudar os profissionais a reduzirem a solidão no local de trabalho: 1) Ligue-se a si próprio primeiro, não necessitando de validação externa com tanta frequência e procurando um equilíbrio entre independência e dependência; 2) Seja curioso e vulnerável para falar de si também, pois as pessoas sentem-se ouvidas quando mostra curiosidade e apreciam a reciprocidade; 3) Faça perguntas com significado e escute ativamente; 4) Peça ajuda sem receios; 5) Torne-se um mentor, ajudando os outros também; 6) Partilhe informação sobre si ou sobre algo que os outros possam apreciar; 7) Alavanque o poder do convite, sem esperar pelo momento perfeito; 8) Encontre um objetivo mais amplo na vida, rodeando-se de pessoas positivas que partilhem os seus interesses; 9) Faça da conexão humana um hábito, encontrando uma comunidade, reservando tempo na agenda diariamente e tomando a iniciativa de conversar; 10) Reúna-se fora do trabalho, incentivando um sentimento de comunidade; 11) Construa uma rede de apoio, reforçando as ligações sociais com colegas, participando em encontros profissionais e aderindo a grupos de reflexão; 12) Diferencie entre solidão e solitude, sendo esta última um estado positivo em que alguém gosta de estar sozinho, pois sabe bem quem é e até gosta dessa pessoa.
Em suma, a solidão transformou-se numa crise de saúde pública, que não se limita ao período de Natal, estendendo-se por todo o ano. Como tal, deve ser combatida mesmo quando está camuflada, incluindo na esfera profissional. Como referiu o escritor e argumentista britânico Anthony Horowitz: “A pior altura para nos sentirmos sozinhos é quando estamos no meio de uma multidão.”
Votos de um feliz e santo Natal!