Há dias, uma mulher, ao sair de um carro, ficou alguns segundos parada, a olhar para a porta. Tentava descobrir onde estava o puxador para a abrir, num carro onde já́ tinha andado tantas vezes. Pensou em voz alta, e a condutora do carro riu com ela enquanto diziam:
- Menopausa!!
Riram porque estavam informadas sobre a menopausa. Mas e se não estivessem?
Provavelmente, teriam pensado o pior sobre aquele “nevoeiro mental” - um dos sintomas da menopausa. Quantas consultas de especialidade faria esta mulher antes de perceber a verdadeira causa?
A menopausa continua a ser um dos maiores tabus da sociedade moderna. Apesar de afetar todas as mulheres, a sua vivência ainda é marcada pelo silêncio, pela desinformação e pela falta de apoio. Atualmente, já se fala mais sobre menopausa, mas quantas mulheres conhecem, de facto, os seus efeitos físicos e psicológicos? Para muitas, esta fase pode ser extremamente difícil.
O tabu pode estar relacionado com o facto de o envelhecimento feminino ainda ser visto como uma perda – de fertilidade, de juventude e, muitas vezes, de valor. Durante séculos, as mulheres só tinham importância se procriassem.
A menopausa não é apenas a cessação da menstruação. É um processo biológico profundo que afeta todo o corpo e a mente. Os sintomas podem ser debilitantes: ondas de calor, insónias, fadiga extrema, alterações de humor, ansiedade, depressão, secura vaginal, ganho de peso e dificuldades cognitivas, como perda de memoria e dificuldade de concentração.
Imaginem trabalhar depois de uma noite de insónia. Imaginem estarem todos a queixar-se de frio, enquanto vocês vestem manga curta e seguram um leque na mão.
- Berdamerda, estes calores! - dizia a minha mãe.
Estes sintomas não são imaginários nem exagerados. São reais e afetam a qualidade de vida de milhões de mulheres. No entanto, o tratamento e o apoio à menopausa ainda são escassos. Muitas mulheres são aconselhadas a “aguentar” e a aceitar o sofrimento como algo natural, sem acesso a soluções eficazes. Algumas são até aconselhadas a esconder o leque. Vergonha de quê?
Quantos médicos/as, ao terem uma mulher à sua frente com sintomas da menopausa, validam esse diagnóstico? Há medicação especifica para a menopausa!
A menopausa é o aviso do fim da fertilidade, e isso pode ser difícil de aceitar — tanto para mulheres que têm filhos, como para aquelas que nunca os tiveram. A sociedade, erradamente diz que: “Árvore que não dá fruto não presta!”
Infelizmente há mulheres que acreditam nisto e sofrem, mesmo que sejam as árvores mais bonitas da natureza.
A menopausa não é o fim, é uma nova fase, que deveria ser compreendida, respeitada e apoiada. A mesma mulher que recebeu parabéns quando teve a sua primeira menstruação não devia ser deixada “a sofrer” quando tem a última.
As mulheres precisam de acesso a informação clara, a políticas laborais mais inclusivas e a tratamentos eficazes. Mas, acima de tudo, precisam de reconhecimento e validação. A menopausa não deve ser um período de vergonha, mas sim de empoderamento. E isso começa com a quebra do tabu e a valorização da experiência feminina em todas as fases da vida.
Falar sobre a menopausa não é apenas uma questão de saúde. É uma questão de dignidade.
A menopausa pode ser um bonito fado...
“Aulas para homens sobre a menopausa são uma boa maneira de ajudar os maridos a perceber aquilo pelo que as mulheres passam.” — Rod Stewart
“Achei que estava a entrar num processo de saúde mental complexo... Fiquei muito afetada.” — Júlia Pinheiro