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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

26/03/2023 08:00

Abordar esta temática não é tarefa fácil, uma vez que o grau de subjectividade é elevado, assim como diversos pontos de vista e ciências a serem cruzados e analisados. Ainda que assim, na generalidade, o que esta reflexão procura é o estimular do pensamento de futuro para a Ilha da Madeira nesta matéria.

Quem se debruce um pouco sobre a História da Ilha e a árdua tarefa do seu povoamento, por ventura reconhecerá que foram eclodindo ao redor do arquipélago uma espécie de profusão de micro-mundos, micro-culturas, umbilicalmente ligada à dificuldade de mobilidade entre as localidades. Com o tempo nasceu a diversidade que é reconhecida, numa Ilha de pequena dimensão, aos olhos do mundo. Desde rituais, a própria forma de falar, de agricultar, de proceder, entre outras particularidades e sensibilidades. A par desta realidade, a própria diversidade natural, os micro-climas, os vales, a flora e por aí abaixo e acima.

Actualmente há que se regozijar com as modernas vias e a rapidez com que se chega a localidades que no passado pareciam deveras longínquas. O salto civilizacional que a Ilha operou, trouxe a glória e o apaziguar de lutas centenárias e odisseias indizíveis para, por exemplo, levar um borracho de vinho do Porto da Cruz ao Funchal, a pé, note-se. A Madeira de hoje respira modernidade e infraestruturas chave e invejáveis. Nunca é demais enaltecer o nosso passado e o salto civilizacional que proporcionou melhores condições de vida aos Madeirenses e a quem nos visita.

Por outro lado, a facilidade por vezes traz o deslembrar de onde viemos, "amadorna" o pensamento, "standariza", "globaliza" como muito se palra nos hodiernos dias. Por isso mesmo, é muito fácil pensar que uma boa ideia para Massachussets pode ter lugar em São Roque do Faial. Por ventura é aí que o debate e o eventual travão podem ter de ocorrer. Uma boa ideia para Barcelona pode ser uma ideia terrível para a Boca das Voltas. A Globalização e standarização podem nem sempre resultar. O Império Romano fez tudo igual em todo o lado e "deu no porco", só a título de exemplo. Há que talvez ter cuidado com a mentalidade "copy paste". Há que talvez ter em conta o enquadramento, as especificidades e distintas realidades locais.

Um Starbucks café no Fanal ou um HardRock café no Chão dos Louros, perdoem-me, são, em minha óptica, duas tragédias. Outros exemplos poderiam ser referidos.

Pelo mundo fora existem inúmeros exemplos de regiões, aldeias, localidades, com características peculiares. Consequentemente, a nível Internacional (UNESCO por exemplo) e Local surgiram políticas de protecção. Em suma, e em bom Madeirense, ali não é para "Chafordar". Não é permitido a implantação de projectos, quer públicos quer privados, que não se adequem. A Madeira tem também situações em que a protecção existe. Um exemplo é o Chão da Ribeira, com um conjunto de regras que não permitem que ali nasçam projectos esdrúxulos, deslocados e desintegrados de uma realidade bem distinta.

Esta reflexão vai no sentido de puxar ao debate público que outras localidades da Madeira careceriam de um enquadramento similar. Que regras, o que permitir, o que proteger, que arquitectura, que micro-cultura é identificável, que vulnerabilidades. Refiro ruralidade uma vez que estas políticas recaem normalmente no campo e em locais de predominância natural. Em suma, que Ruralidades da Ilha queremos protegidas, numa visão de longo prazo, num conceito para além do lucro, para além do imediato e de um certo retorno e reconhecimento ao longo do tempo?

Boas reflexões!

Até…

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