MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

12/12/2025 07:35

Chega dezembro e, com ele, a obrigação silenciosa de estar bem. As luzes acendem-se nas ruas como se quisessem iluminar também o que trazemos cá dentro, mas a verdade é que muitos passam esta época a tentar sobreviver ao contraste entre o que sentem e o que o mundo lhes pede para sentir.

O Natal tem este efeito paradoxal: enquanto proclama união, evidencia ausências; enquanto celebra abundância, expõe vazios de mesas, de relações, de energia, de esperança.

As redes sociais amplificam essa distância. A cada fotografia perfeita, a cada família coordenada de vermelho, instala-se a sensação de falha. Como se a vida tivesse de caber num molde brilhante, sem espaço para tristeza, ansiedade ou exaustão.

Mas a saúde mental não tira férias no Natal. Pelo contrário: é nesta época que muitas feridas doem mais, seja pela falta de familiares à mesa, seja pela pressão de corresponder a tradições que já não refletem a realidade de tantos.

Vivemos numa sociedade que mudou, mas que insiste em enfeitar tradições como se nada tivesse mudado. O capitalismo transforma a época num desfile de consumo e urgência: compra, oferece, decora, publica, mostra que estás feliz.

E esquecemo-nos de perguntar: e se alguém não estiver?

Não há manual para o Natal real, aquele onde convivem saudade, alegria, ansiedade, amor e cansaço. Há apenas pessoas, cada uma com o seu ritmo, a sua história, o seu silêncio.

Talvez a mudança que precisamos seja simples, embora profunda: permitir que o Natal seja plural.

Permitir que exista Natal para quem celebra e para quem apenas respira fundo.

Natal para famílias grandes, pequenas, escolhidas, ou para quem passa a noite consigo próprio.

Natal sem obrigatoriedade de felicidade performativa.

Se quisermos recuperar algum sentido desta época, talvez devamos começar por aí: validando o que sentimos, seja luz ou sombra; acolhendo quem está a passar por momentos difíceis, sem minimizar; desconstruindo a ideia de perfeição, reconhecendo que tradição sem empatia se torna peso; criando espaços onde a vulnerabilidade não seja tabu, mas ponte.

Porque o espírito natalício não se mede em embrulhos, nem em fotografias impecáveis, nem no cumprimento cego de rituais.

Mede-se na capacidade de cuidarmos uns dos outros, e de nós próprios, com verdade.

E se houver uma nova tradição a construir, que seja esta: a de permitir que cada uma viva o Natal à sua maneira, sem filtros, sem pressões, com humanidade.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Enfermeira especialista em reabilitação e mestranda em Gestão de Empresas
11/12/2025 08:00

O inverno chega e com ele, a pressão sobre os pulmões e sobre o sistema de saúde. As infeções respiratórias agravam-se: gripe, bronquiolites, crises asmáticas...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Concorda com a entrega do Prémio Nobel da Paz a Maria Corina Machado?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas