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Artigo de Opinião

3/01/2023 08:00

Os artistas, sempre eles, aqueles que ficam encarregues de contarem a estória da história, que procuram tornar eterna essa história através da sua arte. Eram os bardos, os pintores, escultores e escritores, e são eles que continuam a eternizar a nossa história.

Das coisas que 2022 trouxe à baila, fruto talvez de termos passado dois anos enfiados dentro de casa, sem relações interpessoais, sem conexões, como se vivêssemos nas partes mais profundas da Sibéria, foi a importância da saúde mental e do bem-estar mental.

Já falei aqui do meu processo, algo penoso, sobre a descoberta dessa importância, em que quando menos estamos à espera as coisas deixam de funcionar, na realidade continuamos funcionais apenas bloqueados, o mundo começa a fechar-se, as paredes a encolherem-se e num instante saltamos para a maior montanha do planeta onde temos de lutar por cada inspiração num ar cada vez mais rarefeito, é olhar para o resto do mundo e ver a pequena insignificância que ele tem, que nós temos, é perguntar como é que cheguei aqui, porquê que cheguei certas aqui, e só quando saltamos dessa montanha e batemos no fundo é que fazemos as perguntas, como é que saio daqui, o que preciso para sair daqui.

Depois sentimos que estamos a clamar por ajuda através do nosso silêncio, mas ninguém responde, e a quem responde afastamo-nos, por nossa insegurança, teimosia e medo, sobretudo medo. Medo de mostrar uma faceta que desconhecíamos, medo de arrastar mais alguém para esta floresta sombria, medo… Medo, o grande movimentador de pessoas.

Finalmente ganhamos a coragem, ou somos empurrados por alguém que ouviu o nosso pedido de ajuda por entre o silêncio, de procurar auxílio.

Após um certo tempo achamos que irá ser um processo rápido, umas sessões aqui, outras acolá, uns medicamentos aqui, outros acolá, e tudo volta à normalidade. Entretanto as sessões passam, os medicamentos continuam, e a normalidade desvanece, ao ponto de não sabermos o que é.

Essa normalidade foge por entre os dedos, as rotinas desapareceram, e encontramo-nos desamparados. Fugimos dos problemas, refugiando-nos em pseudocertezas que nunca se tornam, e vamos bailando ao som de uma música que começa a desvanecer, estamos a ouvir Erik Satie e de um momento para outro o piano toma contornos de urgência.

Recomeçarmos, é a realidade. Recomeçamos com uma nova realidade, como se de uma nova vida se tratasse, aceitamos que o medo irá fazer sempre parte, sabemos que a montanha estará sempre por lá a pairar, que a floresta continuará a ter recantos escuros, aceitamos isso… Ao mesmo tempo que aprendemos a viver com esta faceta que não conhecíamos, que foi preciso tempo para conhecer, acarinhá-la e deixar de ter medo dela.

E o que é que levo de 2022? Nada, ficou tudo lá.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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