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Artigo de Opinião

1/03/2025 08:00

Não é muito comum fazer exercícios de autoapreciação, mas dentro do leque de qualidades e defeitos que conjugam a minha personalidade, aquela que mais admiro é a minha capacidade para recomeçar. Recomeçar qualquer coisa. A escrita de um livro que não está com o tom certo; a vida depois de uma relação longa terminar; um trabalho quase pronto que se perde; a mudança constante de um corpo que tem enfrentado muitos desafios ao nível da saúde. Não querendo ficar-me pela massagem de ego, estas palavras são para quem tem medo de recomeços, porque eu sei que recomeçar é, a princípio, assustador. Claro que é. Verdadeiramente assustador. Contudo, é a prova de que não somos estanques e que, na certeza de que mudanças são inevitáveis, termos a possibilidade de fazer diferente, de tentar de outra forma, de procurar novas maneiras, é das coisas mais bonitas da vida.

Recomeçar pode ser poético. Filosófico. Pode exigir silêncios e afastamentos; obriga certamente a escolhas, a alargar o plano de visão, a deitar a cabeça por cima do muro que sempre hesitamos subir. Recomeçar coloca-nos frente a frente com o que fizemos de errado. Ou com o que fizeram de errado connosco. Recomeçar pode comparar-se a um mergulho em águas geladas e – garanto-vos! – haverá sempre aquele momento em que o corpo já estará quente dentro de um roupão. E que libertador é esse segundo de realização.

Recomeçar é vertigem, saudade, melancolia, tristeza, confusão, mas também é o estalar de ovinhos no ninho, a borboleta que sai do casulo, a primeira troca de olhares com alguém que nos borbulha a alma. Recomeçar é a primeira página de um caderno em branco; é a terra que repousa após a tempestade. Recomeçar é encontrarmos em nós uma força imensa de renovação. Há uma liberdade profunda no ato de recomeçar, como quem solta as âncoras e vai. Cada recomeço é uma viagem sem mapa e, na fragilidade do recomeço, abraçamos a nossa verdadeira força. O recomeço é um beijo silencioso da vida, que nos convida a descobrir que, mesmo no caos, somos capazes de florescer.

Recomeço uma vez mais e permito-me sentir tudo o que isso traz. Vem aí a primavera, um recomeço: o planeta que recomeça uma e outra vez, uma e outra vez. Espero que muitas primaveras sejam permitidas dentro de vocês. E verões e outonos e invernos. Não há erros irrecuperáveis, nem problemas sem solução. Pode haver dores que são eternas, mas nessa eternidade também cabe a alegria e o amor e a excitação.

Recomecem. As vezes que forem necessárias.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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