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Artigo de Opinião

Psiquiatra

27/05/2025 08:00

Na semana passada tive a oportunidade de assistir ao momento da alta de uma das jovens que acompanhei enquanto estive a trabalhar na UPIA. A unidade que descrevi em janeiro que se dedica há mais de 15 anos a melhorar a qualidade de vida de adolescentes e jovens adultos que são tidos como “casos perdidos”. A unidade do fim da linha, dedicada aos casos mais difíceis e com uma intervenção multidisciplinar, baseada em vários modelos de intervenção, mantendo a terapia familiar como base, mas implementando tantas outras formas de tratar.

Poder assistir à recuperação em poucos meses de pessoas que tinham passado por tantos internamentos, é absolutamente incrível. A jovem em particular que assisti, passou por muitos profissionais, muitos internamentos, várias formas de apoio em regime de ambulatório, mas foi nesta unidade que conseguiu encontrar novamente o equilíbrio e reconquistar o controlo da sua vida. Quando penso na gravidade dos sintomas com que chegou à unidade e a melhoria que atingiu, é um verdadeiro pequeno milagre. Isto foi possível em parte graças ao trabalho de todos aqueles profissionais, mas também à confiança depositada pela jovem na equipa. Parabéns a todos.

Este é um dos requisitos mais importantes para o tratamento das doenças mentais. Estabelecer uma relação de confiança e compromisso. A importância de se confiar é na verdade um exercício bilateral. Confiança da parte de quem precisa de ajuda e confiança de quem ajuda não só na capacidade de ajudar, mas também na relação de honestidade estabelecida. É esta conquista da confiança para se poder dizer a escuridão mais profunda que nos habita a outra pessoa, que torna possível a recuperação. Porque a escuridão profunda do sofrimento, alivia no momento da partilha com alguém que está disponível para nos escutar e não se assusta com o que ouve. É nesta parte que a experiência e formação são mais importantes. Se quando a pessoa que precisa de ajuda sente que o seu sofrimento é demasiado para o/a terapeuta, fecha-se novamente e torna-se ainda mais difícil de aceitar a próxima ajuda. É um terror enorme sentir que o nosso sofrimento é demasiado para o outro.

O que faz sentido dizer é que cada um, cada família, reforce a prevenção e aumente as estratégias não terapêuticas para a melhoria da saúde mental e da resiliência pessoal. É possível melhorar a nossa saúde quer estejamos com saúde ou doentes, através de estratégias que qualquer pessoa consegue realizar. O foco deve ser uma alimentação saudável, sem “fast-food”, com alimentos da época, preferencialmente locais, biológicos. Rotinas de exercício regulares, tanto que estimulem a parte cardiovascular, como a formação de músculo. O ideal, em equipa para fomentar as relações humanas e a integração. Atividades ao ar-livre, na natureza. Vivemos em estruturas demasiado artificiais, longe da nossa biologia. Os défices de vitamina D demasiado frequentes mostram isto. Estamos com falta de tempo de vida fora do betão.

As estratégias do segundo patamar, as internas, são as que reforçam a nossa capacidade de gerir os sintomas negativos. Aprender a reconhecer as nossas emoções, ter estratégias emocionais e mentais para a gestão emocional. Precisamos de compreender quem somos, as emoções que temos, os contextos que nos ajudam e prejudicam. Os que não conseguem enfrentar, aprender a fazê-lo. Os que são demasiado aprenderem a ser menos. Acima de tudo o foco no desenvolvimento pessoal, assim enriquecemos o nosso interior e melhoramos as relações.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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