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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

30/01/2023 08:00

Escrever, opinar, acarreta, do meu ponto de vista, grande responsabilidade, ainda mais num espaço público, como ainda é um jornal. Escrever por escrever, "encher chouriços", falar de tudo é para "sábio-sabichões". Por vezes não dizer nada ou nada escrever é talvez útil. O silêncio pode ajudar em tempos de muita "mixórdia" e marasmo de ideias.

Hoje volto ao tema da Identidade e à Ilha da Madeira. Sei bem da minha ignorância em relação a diversos temas e tento ser humilde no que tento pensar e dizer. Por outro lado, e por isso mesmo, tento me cingir ao que estudei e estudo. Questões culturais e de identidade são temáticas que me interessam e fazem reflectir. Devo confessar que por vezes parece-me a nossa Ilha atravessar uma crise de identidade derivada de vários factores.

A título de exemplo, existem por aí chavões, clichés, frases pomposas, oriundas de diversas fontes a dizer que a Madeira parece o Havai, o novo Bali da Europa, no Funchal nascerá o glorioso Dubai da Madeira, a praia do Seixal parece a Tailândia. Às vezes a Madeira parece as Dolomitas, a Grande Canária. A Calheta é a Baviera, mas com sol, etc e etc. Se querem saber o sentimento que me fica quando ouço/vejo/leio essas comparações, digo com sinceridade: É o sentimento de alguma tristeza. Foi numa dessas comparações que surgiu o título deste artigo. Aquando de uma incursão por inóspitas e singulares montanhas da Ilha, começaram as comparações com isto e mais aquilo até que um amigo, lucidamente e em tom irónico "disparou": "Sim, parece tudo menos a Madeira!"

Estas comparações surgem naturalmente e não haverá aparente mal. O Marketing é também um mundo suscetível a muito. Ainda que tal, por outro prisma, estas comparações podem ser insonsas e podem talvez deixar um rasto que é possível seguir. O rasto da tal crise de Identidade, do não ter orgulho próprio, desconhecer ou deslembrar a sua valia. As comparações, por vezes, surgem quando há um défice de autoestima e no caso da Madeira, quem a conhece, quem sabe e sente a valentia das suas gentes, sabe também que talvez a Madeira não necessite de se comparar a nada nem a ninguém. Talvez a tal identidade adormecida e entorpecida pela sofreguidão do momento, do curto-prazo ao invés do longo prazo. A propensão para as modas e uma falta de visão mais alargada e de futuro. Talvez a Madeira seja a Madeira não?

Uma pergunta exige-se. O que é então essa Identidade da Ilha da Madeira? Seria extremamente interessante saber o que cada qual tem a dizer. A Madeira ostenta em termos cronológicos 6 séculos de existência, uma história de sacrifício e de demandas hercúleas. Uma resposta aqui seria sempre redutora. O espaço é limitado a 3500 caracteres. Um tremendo debate careceria de ser feito acerca de tal. Há quem fale da Madeira virada para o futuro. Há quem fale que há que erradicar a Madeira velha. Não há dúvidas do importante salto civilizacional que a Ilha deu nos últimos 30 a 40 anos. Ideologias de 30 e 40 anos, há que lembrar, também começam a fazer parte do passado, o tempo não pára. E o futuro?

Dizem os ventos das montanhas que a Madeira vale pela sua autenticidade e sobretudo pela sua singular natureza, desde o fundo do mar aos picos mais altos, sem essa singularidade dificilmente seríamos distintos.

Terá a Madeira ainda uma identidade própria ou caminhamos para um lugar onde a realidade será: "Parece tudo menos a Madeira?"

Até…

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