Os jovens NEET (“Not (engaged) in Education, Employment or Training”, isto é, “nem trabalha, nem estuda, nem está em formação”, ou os “nem-nem”) são considerados na Europa uma verdadeira emergência social. Entre os 16 e 29 anos, vivem uma situação de impasse. Mas, o problema é tanto deles como nosso.
Ainda que em diminuição, a nível nacional e regional, os números continuam preocupantes. Em Portugal, existirão cerca de 160 mil nesta situação, com apenas 70 mil inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional. Destes 160 mil, em 2024, 5.700 pertenciam à RAM. Isto é, 10,9% dos jovens madeirenses (menos 1% do que em 2023; a nível nacional, a percentagem é de 9,4%, também em descida) encontra-se numa situação de inatividade. Pelo que se observa mundialmente, há mais raparigas do que rapazes na condição NEET. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, os NEET representam 10%, enquanto as jovens inativas representam 34%. Em Portugal, também a taxa das jovens NEET é superior de um ponto percentual à dos jovens.
O Eurostat aponta como causa da disparidade de género o nível de instrução, mas também convenções ou pressões sociais e questões relacionadas com o mercado de trabalho, sendo mais provável as jovens terem empregos menos remunerados ou precários
No geral, os NEET têm no máximo o ensino secundário, mas a maior parte apenas o 3.º ciclo do ensino básico. A esta falta de qualificação, que favorece o risco dos NEET, junta-se uma conjuntura de contexto familiar desfavorável e falta de uma cultura de sucesso. Mas, não existem apenas os NEET gerados pela desvantagem da condição de origem e pela falta de qualificações. Há-os também superprotegidos, criados por famílias que se empenham em facilitar-lhes o caminho, evitando assim que se coloquem realmente à prova.
Cair no estatuto de NEET é, antes de mais, uma perda de potencial para os jovens. Passar muito tempo neste estatuto pode ter consequências duradouras, com um efeito negativo nos resultados futuros em termos de emprego e rendimentos, bem como na saúde física e mental. Rapidamente, tornam-se adultos que desistem de desejar, de ter ambições, de lutar pela mudança e pelo sucesso. O problema dos jovens que não trabalham é, por isso, um problema social, e não apenas das famílias desses jovens.
Juntemos à conjuntura o trabalho jovem sobre-qualificado, que tem vindo a aumentar no grupo etário até aos 34 anos — com os jovens a exercerem profissões para as quais a qualificação que têm é superior ao necessário, o que representa um investimento educacional perdido —, e o número de contratos de trabalho não-permanentes, muito superior à média europeia.
Em conjunto, estes indicadores são preocupantes, porque não há país que se desenvolva sem cuidar da sua mais valiosa matéria-prima, o capital humano, e estamos a perdê-la. É fundamental ativar um diálogo constante entre sistema educativo, empresas e políticas ativas, para que as e os jovens não sintam que desistimos deles.
Há que criar condições de trabalho estáveis e perspetiva de carreira que lhes dêem confiança no futuro, contrastando o abandono silencioso. Se lhes mostrarmos uma sociedade em que o mérito não conta, sem uma ideia de realização pessoal e de impacto positivo através do seu trabalho, com perspectivas limitadas e sem futuro, perdemos os jovens e perdemos nós.