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Artigo de Opinião

Engenheiro

30/03/2023 08:00

Por estes dias a rifa saiu à pobre da Enid Blyton, conhecida autora dos livros juvenis "Os cinco", pois os seus livros estão a ser reescritos e nas bibliotecas públicas do Condado de Devon no Reino Unido, as versões originais foram retiradas para locais não acessíveis ao público. A justificação estará na utilização ao longo das muitas aventuras dos quatro amigos e do seu fiel amigo, de uma linguagem datada e pasme-se, ofensiva. O medo de ofender os leitores vem do facto da escritora ter utilizado nos seus textos palavras como "queer", estranho em português, "gay", alegre em português, "castanho" em referência à cor da pele de uma das personagens e expressões escabrosas tais como: "cala a boca" e "não sejas idiota" (aos leitores mais sensíveis o meu sentido pedido de desculpas).

Além destas terríveis expressões, capazes de transformar qualquer leitor distraído num assassino em série, num racista ou num homofóbico encartado, esta Santa Inquisição pós-moderna também detectou personagens estereotipadas e que não representam os cânones sociais actuais. Que diabo (peço desculpa, novamente), "Os Cinco" eram um grupo de amigos, como qualquer grupo de amigos normal e mentalmente são. Havia um tipo mais ponderado, outra mais práctica, um mais divertido, havia até uma maria-rapaz e um Border Colie malhado, nem preto nem branco. Pergunto, onde está a heresia, que blasfémias foram proferidas para que estes agentes das trevas ponham em causa a obra de Enid Blyton?

Esta deriva censória, este fundamentalismo de umas quantas minorias está a infantilizar a nossa sociedade e a tentar reprogramar a nossa juventude em direcção a uma uniformização e purificação social, moral e cultural. O cancelamento a que assistimos diariamente, ora mais ou menos dissimulado, serve apenas um propósito, formar jovens inaptos, inseguros e incapazes de lidar com os desafios de uma vida adulta, sempre complexa e nem sempre justa. Como se já não bastasse andarem a pegar com "Os Cinco", uma outra das personagens criada pela malograda escritora, "O Noddy", está também a ser violentamente atacada por estes puritanos complexados. O que será dos meus filhos que viram milhares de horas de Noddy, um episódio atrás do outro, como vão ficar aquelas cabecinhas?

As novas versões, muito modernas e politicamente correctas vão sofrer algumas alterações, e das quais vos vou dar nota: O carro do Noddy passa a ser eléctrico por causa do ambiente, uma exigência da Greta. O Senhor Lei passa a ser vegan e vai ficar em forma para estancar a gordofobia latente. O Sonso e o Mafarico, vão abandonar o crime, assumir a sua homossexualidade e abrir uma galeria de arte. A Ursinha Teresa, em vez do chapéu vai usar um véu islâmico e vai deixar de oferecer bolachas ao Noddy, porque o lugar de uma mulher não é na cozinha. Ao simpático gnomo Orelhas, vão lhe retirar a barba porque parece um judeu e o povo palestiniano merece respeito. A Boneca Dina vai sofrer também umas alterações, vão lhe aplicar uns traços orientais e será intolerante ao glúten. A Macaca Marta vai deixar de fazer depilação das axilas e de usar desodorizante porque é melhor para o ambiente e porque a Greta também não usa. O Ursinho Rechonchudo passará a personagem de género não binário fluído e em alguns episódios vai-se chamar Ursinha Teresa, vai haver alguma confusão, mas os miúdos habituam-se. Ainda bem que o António, o Manuel e a Francisca já não têm idade para ver o Noddy, mas segundo estas medievais criaturas, vão precisar de muita terapia… coitados.

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