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Artigo de Opinião

28/08/2021 08:01

Ora, o que mudou de 2016 para 2021, para que Spencer que outrora se mostrava grato, por com apenas 4 meses ter feito parte de uma imagem icónica, vir alegar sofrimento emocional extremo e danos para toda a vida? Alguns disseram já que a própria capa fazia adivinhar o que aí vinha, uma vez que o bebé está a nadar atrás de uma nota de 1 dólar presa num fio de pesca. Certo é que, tanto em 1991, na carteira dos pais de Spencer, como em 2016, na carteira do próprio Spencer, caíram 200 dólares. Será um valor baixo tendo em conta que Nevermind vendeu mais de 30 milhões de cópias? Não sei dizer. O que me parece ser o ponto de ignição aqui, é a maneira como os eventos do passado são actualmente percepcionados pelos "novos polícias do Mundo", os polícias da moral e dos bons costumes, da igualdade de género, do racismo e do politicamente correto. A acusação contra os Nirvana diz "A identidade e o nome legal estão para sempre relacionados com a exploração sexual comercial que experienciou enquanto criança, vendida e distribuída no mundo inteiro desde que era um bebé até hoje", em que 2,55 milhões de dólares de indemnização servirão para apagar da memória de Spencer a imagem de si próprio como um "trabalhador do sexo a agarrar uma nota de um dólar". Não meus caros, a imagem é apenas e tão só a de um bebé, a nadar nu, numa piscina. Só isso. Tal como foi vista e percepcionada em 1991.

Os tais "novos polícias" são os mesmos que decidem condenar livros à reclusão porque não se enquadram nos novos tempos. Livros belíssimos como o "Mataram a Cotovia" de Harper Lee, outrora símbolo de uma América na luta pela igualdade racial, é hoje considerado racista. O mesmo caminho seguiu Mark Twain e "As aventuras Huckleberry Finn", uma companhia preciosa para muitos de nós, em livro e em série, parece que agora faz mal à saúde intelectual, por ter nas suas páginas a palavra "preto". As histórias infantis e contos de fadas, também não foram poupados. Nos dias de hoje, o beijo dado pelo Príncipe Encantado à Bela Adormecida é uma violência contra a mulher que estando, como o próprio nome indica, adormecida, não deu o seu consentimento. O mesmo se aplica à Branca de Neve. Esses novos entendidos na igualdade de género dizem inclusivamente que a noção de princesa contem nela o poder de ser vítima de abuso sem consentimento. Também vi ser dito que estes beijos fictícios do imaginário Disney são "actos sexuais obscenos quase compulsivos num parceiro inconsciente". Pasme-se o leitor, que agora até se pondera que textos bíblicos, dizem eles polémicos, possam ser revistos. Mundo estranho este.

Dos livros e contos podemos passar para os monumentos. Esta semana foi a estátua de Pedro Álvares Cabral, incendiada e grafitada, no Rio de Janeiro por um colectivo indígena que considera a estátua um monumento à escravatura e genocida. Há pouco tempo foi o Padrão dos Descobrimentos, em Lisboa, igualmente vandalizado, e até houve um cidadão português, eleito no parlamento português, que defendeu a sua destruição. O ano passado, foi a vez da estátua do Padre António Vieira ser vandalizada porque evoca o passado colonial.

Termino esta reflexão da mesma forma que iniciei, em modo musical, pelas palavras, da também banda americana, R.E.M. (à data em que vos escrevo, estão imaculados do ponto de vista dos novos polícias do Mundo - pelo menos que se saiba. Não é fácil acompanhar todas as novas indignações.), que cantavam "It´s the end of the World as we know it", e provavelmente é mesmo.

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