Como acontece todos os anos por esta altura, a Presidente da Comissão Europeia proferiu o seu discurso sobre o Estado da União, ocasião aproveitada para anunciar as principais iniciativas a lançar nos próximos tempos.
Como quase sempre, o diagnóstico e os anúncios encaixaram quem nem uma luva nos desafios e necessidades da atualidade.
Com efeito, depois de anunciar que este teria de ser “o momento da independência europeia”, Ursula von der Leyen reiterou o apoio incondicional à Ucrânia e o investimento na “Vigilância do Flanco Leste”, para reforçar a defesa da Europa contra a ameaça russa.
Condenou a situação em Gaza, defendendo a coexistência de dois Estados e anunciando sanções contra “ministros extremistas e colonos violentos”, mas não sem admitir as dificuldades em impor medidas conjuntas pelos 27...
Para melhorar a crónica falta de competitividade da UE, anunciou um grande investimento no setor digital e nas tecnologias limpas e menos burocracia, tudo isto sem esquecer os objetivos do Pacto Ecológico Europeu, e a meta de neutralidade carbónica até 2050.
Ciente dos seus efeitos, defendeu a urgência de uma “ambiciosa Estratégia de Combate à Pobreza”, apresentou a iniciativa “Autoestradas da Energia”, para acabar com as “ilhas energéticas” dentro da UE, como é o caso da Península Ibérica – e assim evitar futuros apagões... –, e anunciou o primeiro Plano Europeu de Habitação a Preços Acessíveis e a organização da primeira cimeira sobre habitação, admitindo que estamos perante uma crise social.
Apresentou ainda uma iniciativa para promover automóveis pequenos e acessíveis fabricados na Europa – o “ecocarro europeu” –, numa tentativa de salvar a indústria automóvel europeia – alemã, sobretudo – e travar a hegemonia da China, mas também apoios à comunicação social, a defesa dos agricultores, eliminando práticas comerciais desleais e promovendo a compra de produtos europeus, e a criação de um novo polo europeu de combate a incêndios, para fazer face ao flagelo que todos os anos assola a Europa, sobretudo do sul.
Como se vê, um discurso inatacável, com soluções para os principais problemas que hoje enfrentamos, até mesmo para a habitação e para o combate aos incêndios, que nos tocam mais de perto, e fortemente.
Então, qual o problema? Só um; entre diagnóstico exemplar, medidas corretas e execução vai uma grande distância, e a Europa atual será incapaz de pôr em prática a maior parte das iniciativas agora anunciadas.
O melhor exemplo é a quase impossibilidade de conciliar medidas de apoio à economia, que nos garanta a tal independência, com as metas ambientais, ambiciosas ao ponto de fazer sucumbir a nossa indústria aos pés de uma concorrência pragmática e com muito menor consciência ambiental.
Mas há que ter fé, e dar o benefício da dúvida, quanto mais não seja porque é tudo o que nos resta.
Abandono escolar – um avanço notável
Nem tudo foi perfeito – nada é –, mas é visível e incontestável a evolução positiva que se assistiu na educação na Madeira na última década. Prova disso é a “paz social” que se vive na Região, mas sobretudo a redução do abandono escolar que se verificou nos últimos 10 anos, passando dos 23% para os 8%, que compara com os 19,8% dos Açores, e já abaixo do teto máximo de 9% definido pela União Europeia para 2030.
Sendo a educação o melhor investimento que qualquer governo pode fazer, e numa altura em que deixa o cargo para abraçar outro desafio, fica aqui um público reconhecimento ao Dr. Jorge Carvalho por estes resultados, que a muitos beneficiaram.