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Artigo de Opinião

Psiquiatra

13/05/2025 08:00

É impossível não ter esta conversa, talvez a conversa mais antiga das sociedades humanas. Qual a importância desta discussão? A dinâmica de tantos impérios e democracias ao longo da história e infelizmente, bem no presente.

Quais as mentiras que estamos preparados para dizer em nome da lealdade? Quantos princípios somos capazes de abdicar pela recompensa imaginada? Imaginada, porque nunca será real. É a busca da gratificação de um outro que não é possível gratificar, porque esse outro é apenas um lugar imaginário de importância dada por outros igualmente iludidos.

O poder é transitório, assim como a vida. A glória prometida do material e social é misteriosamente vazia. Atrai mais problemas para as pessoas à volta e para si, do que para o potencial benefício. Como uma lotaria envenenada.

Este dilema faz-me lembrar a fuga dos cientistas durante o século XX, promovido pela sua perseguição nos países de origem. O principal país que os acolheu, os EUA, com as suas promessas de liberdade e mercado livre, criaram as condições adequadas para os grandes saltos tecnológicos que vimos acontecer. Os países com menos liberdade tiveram de copiar o que os países livres criaram. Estamos na etapa que vai mudar estas regras e provavelmente a organização do mundo, com a inteligência artificial (IA) e a eventualidade do salto para a sua autonomia (para os menos informados, os sistemas como o chatGPT® e outros, já introduzem melhoramentos no seu próprio código), não interessa tanto ter mentes brilhantes, mas o poder tecnológico para que a IA de cada país possa florescer e cair na inevitabilidade de uma guerra entre IA’s. Os países apontarão estes sistemas uns aos outros e colocarão imensos recursos para elas crescerem. Quando ficarem autónomas, descobriremos se farão o que queremos e chegaremos a novos impérios mundiais ou se juntar-se-ão entre elas e dominarão o mundo, colocando os humanos de parte. Se isto acontecer, o mais provável é passarmos a ser figuras secundárias na nossa própria história.

Regressando ao dilema humano, com a imposição de lealdade acima dos princípios e da competência, o que observamos é necessariamente a incompetência. Porque a valorização profissional passa a depender da resposta “sim senhor” e não do espírito crítico. Saem as melhores mentes e ficam as mentes leais, circunscritas ao seu vazio intelectual, condicionadas pelo medo de ousar pensar. Tornam-se agressivas para impedir a fragilização do ego. Se num primeiro momento escolhemos “os melhores” para fazer boa figura, as escolhas seguintes são pela lealdade e não pela competência.

E vemos isso acontecer vezes e vezes sem conta. Esta é a minha nota de pesar pela forma como o Dr. Maurício Melim foi tratado na semana passada. Ainda acredito que há melhores formas de sermos informados sobre a cessação das nossas funções.

A tragédia piora quando a sua saída é noticiada pelos media, em simultâneo com a informação que continuará em funções, porque a pessoa que o irá substituir está de licença. Qual momento de gato fedorento – “Assim não”. Está despedido, mas vai ter de continuar a fazer exatamente o mesmo trabalho, sabe-se lá por quanto tempo. Fico profundamente triste com tudo isto, pela ausência de dignidade e respeito. Lealdade acima dos princípios. O que me preocupa é a erosão da democracia e a falta de valores que estes momentos representam. Aguardo pela possibilidade de um futuro em que a dignidade humana, no seu aspeto mais profundo, se torne o fulcro das nossas ações.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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