Festas são festas. Alturas em que a maioria revela maior tolerância sobre isto ou aquilo. Não é só no Carnaval – o Natal também rima – que quase ninguém leva a mal determinados excessos. Ou quase ninguém. Há sempre quem não compreenda comportamentos que destoam da atitude habitual de cada um fora de um ambiente festivo, e isso também faz parte da diversidade de sensibilidades que coexistem em sociedade.
Os mais intolerantes são, muitas vezes, rotulados de maldispostos, apenas porque não aceitam aquilo que os outros fazem. Incomoda-lhes, pronto. Mesmo quando esse incómodo não interfere diretamente com a liberdade individual de ninguém.
Ainda assim, convém dizê-lo, muitos desses ‘maldispostos’ conseguem ser pessoas interessantes e até divertidas, mesmo que sorriam menos do que a maioria, façam mais perguntas e acompanhem as respostas mais truculentas. É feitio.
Todos, à sua maneira, podem e devem viver a época natalícia com a serenidade de quem sabe que não deixou nada pendente para amanhã, antes de aproveitar o recato do lar e a companhia da família e dos amigos. Pessoas que valorizam o descanso, mas que também exigem que, antes das festas, as coisas funcionem como devem.
Não vale a pena repetir, vezes sem conta, que se fez tudo o que era possível, quando nem quem o afirma acredita verdadeiramente nesse raciocínio. Nesse aspeto, o setor privado continua a ser, em muitos casos, um modelo a seguir, porque decide e executa com rapidez.
O setor público, é justo reconhecê-lo, também tem bons exemplos, profissionais competentes e serviços que funcionam. Mas continua a estar demasiado preso a uma cultura de procedimentos que raramente se traduz em soluções.
A crítica que se impõe é à excessiva burocratização, que tantas vezes serve apenas para desresponsabilizar a administração pública, proteger quem decide e complicar a vida de quem quer avançar com processos que realmente interessam às pessoas. Burocracia que se transforma num escudo, num adiamento permanente, numa forma confortável de empurrar decisões com a barriga.
O JM deu ontem o exemplo da ACIN, que em apenas dois meses fechou 275 contratos. Alguém acredita que um organismo público conseguiria resolver igual número de processos no mesmo espaço de tempo? A quem interessa esta demora crónica?
É precisamente nestas alturas que os chamados maldispostos aumentam. E, neste caso, com toda a razão. Porque a inexplicável morosidade administrativa não é um detalhe técnico sem importância. Influencia vidas, adia projetos, cria frustração e mina a confiança nas instituições. E isso, mesmo em tempo de festas, não pode, nem deve, ser ignorado. Até porque muitos passam as festas incomodados com os problemas que a máquina burocrática teima em não resolver.