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Artigo de Opinião

Psiquiatra

17/10/2023 08:00

Lembro-me ainda dos primeiros dias em que estava a realizar a minha formação em psiquiatria. Na altura, tivemos a possibilidade de ter um ambiente de aprendizagem de partilha com psicólogos experientes em psicanálise e grupanálise. Num dos dias, fiz um comentário inocente, algo como: "como é que os conceitos de regulação emocional e interpessoal, tão fundamentais para as nossas relações, não são ensinados nas escolas, não são ensinados desde cedo pelos diferentes ramos da sociedade, se são tão essenciais." O que a memória alcança é uma resposta algo semelhante a: "isto que consideramos fundamental e que por vezes parece ser apenas bom-senso, são as estratégias mais refinadas da existência humana".

O que sinto, quando me lembro desses dias, é o que me faz compreender as atrocidades humanas, entre humanos e com o planeta. A maior parte de nós, humanos, não tem oportunidade de construir os melhores mecanismos de defesa do eu. Curioso, como até as funções primárias emocionais, são frequentemente chamadas de defesa. O nosso corpo é frágil comparado a tantos animais. Mas a nossa mente é ainda mais frágil. Com o sopro certo de palavras ficamos destruídos e com outro, rejubilamos. Quando ansiamos por um "amo-te", que poderá acontecer com a resposta inesperada?

Quando falamos de saúde mental estamos a maior parte do tempo a falar de doença mental. Mas existe de facto a área da saúde mental, aquela que trata da prevenção, de mantermos as doenças afastadas. Atenção, não é o sofrimento afastado, nem a ansiedade. São as doenças. Porque doenças mentais e emoções, são duas coisas muito diferentes. É saudável sofrer, ansiar. Sem estarmos disponíveis para as emoções negativas, não estamos para as positivas, pelo menos profundamente disponíveis.

Existe uma história antiga de um carvalho e de um bambo, que estão perto a conversar. O carvalho ri-se do bambo cada vez que ele abana com a brisa do vento. Mas um dia, quando vem uma tempestade, a flexibilidade do bambo permite que ele sobreviva aos ventos deitado, mas o carvalho parte-se e acaba por não sobreviver. Uma das mensagens é a flexibilidade. Nas emoções também é fundamental mantermos a flexibilidade para as sentirmos, mas enraizados para não sermos levados no vento com elas.

A única forma de crescermos como humanidade é aprendermos a gerir a comunicação e as relações humanas de outra forma. O respeito e entendimento são a pedra basilar, mesmo que não seja fácil aceitar a diferença. Ainda nos dias de hoje, tantas pessoas sofrem por não poderem ser quem elas são, por não poderem ser diferentes. Quanto mais tempo vamos deixar passar até aprendermos a respeitar o outro pelo que ele é? Ou quando é que vamos ajudar aquele familiar, amigo ou mesmo, sem-abrigo, em vez de fingirmos que está tudo bem? Na verdade, tantas vezes obrigamos o outro a manter o seu papel social, só para não termos de lidar com as suas emoções, com o seu sofrimento.

Como vamos encontrar a forma de resolver os conflitos, sem utilizar as palavras-arma, ou armas efetivas?

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