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Artigo de Opinião

Fruto de vicissitudes várias, o concelho de Câmara de Lobos conheceu, por sucessivas gerações, uma espécie de amnésia coletiva. Em certa medida, e de uma forma, muitas das vezes, mais ou menos involuntária, menosprezamos o legado histórico, cultural e patrimonial do nosso concelho e das nossas gentes.

Esta amnésia sociológica condicionou a reflexão sobre o nosso passado histórico e fez sobressair o preconceito que, durante demasiado tempo, nos estigmatizou. Nós próprios, câmara-lobenses, alinhamos nas narrativas que secundaram o papel desempenhado pelos nossos antepassados no processo histórico do concelho e da Madeira.

E com o decorrer do tempo, foi-se estabelecendo a ideia de que eramos uma espécie de párias insulares, filhos de um deus menor. E, aqui e ali, houve mesmo quem diagnosticasse que Câmara de Lobos não tinha massa crítica para refletir sobre si próprio. E, assim, muitos, de ente nós, rasgaram as fotos e, com elas, as memórias de um passado envergonhado.

Felizmente, nem todos! Neste plano a revista ‘Girão’ é o exemplo dessa resiliência. Lançada pela primeira vez em 16 de outubro de 1988, a Girão abriu novas possibilidades para o conhecimento do concelho e marcou uma viragem sobre a forma como olhamos o nosso passado coletivo. Ao longo de décadas assumiu-se como o projeto cultural charneira de Câmara de Lobos. Fruto do contributo de vários investigadores e entusiastas da história do concelho, foi possível coligir e trazer ao conhecimento público factos históricos e informações relevantes sobre a nossa cultura e património.

Neste plano, não poderia deixar de evocar o nome dos fundadores da Girão e reconhecer o inestimável contributo que prestaram à investigação e ao conhecimento histórico do nosso concelho. Começaria, naturalmente, por assinalar o nome de Manuel Pedro de Freitas, pelo arrojo em liderar, ao longo de vários anos, este projeto editorial. O contributo que prestou, e ainda presta, à cultura de Câmara de Lobos é incalculável. Este reconhecimento é extensivo a Maria Helena Araújo, ao Padre Manuel de Nóbrega, Carlos Soares, J. António Gonçalves, Manuela Santos, Vasco Júnior, Gualberto Ferreira, Nelson Veríssimo, José de Sainz-Trueva e João Adriano Ribeiro, por, desde a primeira hora, terem acreditado naquela ideia.

Volvidos 34 anos desde a data fundadora, relançamos, no passado dia 16 de novembro, no Museu de Imprensa-Madeira, a Girão e retomamos aquele que é, na minha ótica, o mais importante projeto cultural concelhio. A Girão é uma das iniciativas socioculturais de maior relevo concelhio, desempenhando um assinalável contributo para a sistematização e registo da história, das artes e das tradições do concelho, e da Região no seu todo.

Tendo como ambição recuperar o seu prestígio, a nova Girão apresenta-se com uma linha editorial renovada, mantendo, contudo, os mesmos propósitos de aprofundar o conhecimento da história de Câmara de Lobos e ser Lugar de encontro dos saberes sobre a história da Região.

O interesse que a Girão dedica ao passado é porque, dessa forma, ajuda a esclarecer o presente e a perspetivar, com maior liberdade, o futuro. Num mundo marcado pela urgência do imediato, a Girão é "investimento" necessário para a construção das memorias que levam ao relevante processo de construção das identidades. Pois, para pertencer, é preciso conhecer!

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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