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Artigo de Opinião

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25/09/2021 08:01

Este termo teve origem no início dos anos 2000 e circunscrevia-se tipicamente a encontros/relações românticas, traduzindo-se em desaparecer da vida de alguém sem terminar a relação amorosa, oficial ou não. Na década seguinte, os meios de comunicação social relataram um aumento do fenómeno, atribuído essencialmente ao uso crescente das redes sociais e de aplicações de encontros online. Neste tipo de situações, para evitar ruturas chatas e não ter de facultar grandes justificações, o fantasma simplesmente deixa de responder a mensagens e chamadas de voz, bloqueia as redes sociais e coloca filtros no email. Contudo, o fenómeno só se tornou verdadeiramente popular em 2015, após terem sido publicados inúmeros artigos em blogues, sites e revistas lifestyle relacionados com a dissolução de relações de grandes celebridades, tendo o termo sido incluído no Collins English Dictionary ainda no mesmo ano. Desde então, o ghosting tem sido amplamente mediatizado e expandiu-se para descrever práticas semelhantes entre familiares, amigos e no mundo do trabalho.

No universo laboral, o ghosting é já praticado há muito por parte do empregador. O comportamento mais comum consiste no voto de silêncio do recrutador após publicar uma oferta de emprego, seja porque ninguém acusa a receção de candidaturas ou ainda pela total ausência de feedback após uma entrevista de emprego. O fantasma simplesmente desaparece e reaparece meses depois para retomar a conversa como se nada fosse. Outras vezes, nem chega a reaparecer. A novidade é que agora também está a acontecer do lado dos trabalhadores (de todas as idades), numa espécie de lhes dar a provar do seu próprio veneno. Desde os candidatos que marcam entrevistas e não comparecem, aos que deixam de responder a telefonemas e email e ainda àqueles que mesmo já contratados, desaparecem após um dia ou dois de trabalho.

O ghosting laboral tem sido associado a baixas taxas de desemprego e a culturas de grande mobilidade laboral. Contudo, o fenómeno afigura-se global e, segundo Kristi DePaul, num artigo da Harvard Business Review, existem razões transversais para este fenómeno, nomeadamente, a dificuldade em dizer não a alguém, a tendência das pessoas para evitarem o conflito, a falta de informação/autonomia para comunicar uma decisão e a sobrecarga laboral. Acrescentaria ainda a atual dificuldade em assumir compromissos. Uma coisa é certa: haverá sempre ghosting dos dois lados da barricada. Contudo existe uma regra de ouro que beneficiaria as partes - o respeito pelo tempo do outro, enquanto exercício de cidadania. É necessária coragem para escrever aquele email ou fazer o telefonema a dar as más notícias. As pessoas merecem a nossa consideração e tudo será mais fácil se formos claros e honestos uns com os outros. Caso contrário, viveremos num mundo constantemente assombrados por fantasmas que se multiplicam a cada dia que passa.

Como proferiu José Saramago no seu discurso do banquete do prémio Nobel a 10 de dezembro de 1988: "Chega-se mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante. Alguém não anda a cumprir o seu dever. Não andam a cumprir os governos, (…) mas também não estão a cumprir o seu dever os cidadãos que somos".

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