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Artigo de Opinião

26/06/2021 08:01

Lembrei-me do verso do engenheiro pessoano a propósito daqueles que se levam muito a sério, emoldurados em caganças arrogantes de importância e insubstituibilidade e que vêem os outros com menosprezo altivo. Como alguém disse certeiramente, os cemitérios estão cheios de gente insubstituível. E de novo o poema: "Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente! Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...Sem ti correrá tudo sem ti. ".

Se aos cagões ridículos sobrasse a inteligência da lucidez, talvez se devessem perguntar o que é essa importância com que se presumem?

Será ter algo ou ter tudo materialmente? O que se come e bebe por que é caro e que o paladar tosco ainda não assimilou? Os adornos de griffe indiferentes para quem não conhece e que a contrafacção pirateia? O pecúlio no banco para vidas que não se gozaram? Os bens desmedidos que não se usufruem? A glória efémera de ter unicamente para exibir, no amesquinhamento torpe de quem não tem?

Talvez se devessem perguntar o que resta da vida quando as coisas se conquistam? No dia da coroação de tudo o que os olhos insaciáveis quiseram alcançar? Talvez tudo possa ser afinal um precipício com travo a nada, um desejo imenso esvaziado, um homem perdido num labirinto dourado, se lhe sobrar algum laivo de humanidade e interrogação.

Será ganhar um lugar na História? Mas perguntem-se, ficarão verdadeiramente na História? Ou serão um mero registo de um livro pardo numa prateleira de repartição de uma passagem sem feito, nem alma, cuja grandeza esteve só na sua mente estonteada e que o mundo rapidamente esqueceu? O que ficará de si por onde passaram, que recordação deixarão guardada na gratidão de alguém? Talvez sonhem em dar nome a uma rua ou a face a um busto, na pequenez de um feito bem urdido e do favor do tempo, que os passantes ignoram e as aves pintam com os seus dejectos. Mas serão só, talvez, um retrato empalidecido por detrás de um candeeiro de mesa com o pó a fazer-lhes companhia, um objecto de curiosidade de um neto que não os conheceu e depois lhes vira as costas indiferente, até ao dia em que a moldura estará velha e os vindouros os desmereçam e serão deitados no lixo para sempre, como apenas mais um de que não rezou a História.

Será a frivolidade de uma imagem, a soberba de um palco, a vã glória de mandar dos inábeis próximos dos preceptores? A importância de se colar a colos mais altos que secretamente usam e desprezam a serventia do seu quintal pequenino? A importância aos olhos do serviçal que espezinham com a sua valia insegura, enquanto se sentem esmagados pelo préstimo alheio que cobiçam e rancorosamente destratam? E ainda o poema: "Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem. Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?"

Grande é o homem que quanto mais se vai libertando da lei da morte, mais a humildade e o respeito lhe correm nas veias.

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