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Artigo de Opinião

Psiquiatra

4/05/2022 08:01

Abaixo dos 12 e acima dos 65 anos, as relações humanas são tão importantes que determinam significativamente a nossa cognição. Durante toda a vida determinam o nosso estado emocional e através deste interferem na nossa saúde global. A depressão, por exemplo, agrava a recuperação de enfartes, agrava a diabetes e até a mortalidade de neoplasias.

As relações interpessoais são uma das principais causas de sofrimento humano e as grandes psicoterapias, de uma forma ou de outra, passam por compreender, moldar e gerir as relações humanas.

Quer nas relações um-a-um ou de grupo, temos muito pouca liberdade para sermos originais, livres e contruirmos relações positivas. Ou dedicamos grande parte dos esforços a crescermos e sermos a nossa melhor versão, ou criamos relações tóxicas e limitadoras. Quanto maior é o número de pessoas juntas, menor é a possibilidade de agirmos de forma consciente. Quando estamos sozinhos com uma pessoa, podemos confidenciar, podemos ouvir e ser ouvidos. Quando aumentamos para grupos pequenos, começamos a ter dificuldade de gerir o nosso estado interno e o dos outros. Vemos tantos conflitos nas famílias e muitas vezes ou não se sabe por onde começou, ou todos culpam o mesmo elemento, o mais fraco ou mais forte. Quando pensamos em grupos de amigos, a imagem desse grupo é a nossa própria imagem. E assim criam-se grupos que se opõem a outros, que na pior das hipóteses se tornam pequenos gangs de influências. Quando vivemos em grupo, a ação livre do membro desvanece e passa a existir a ação do grupo orientada pelo/s líder/es. Assim se formam clubes, partidos e nações. E assim se explicam influências, corrupção e guerras. Estranhamos como povos se colocam por detrás de líderes que conduzem ao massacre, como Hitler, mas as pessoas que compõe a nação, não o fariam individualmente. Perdemos a identidade individual e vestimos a do grupo.

Como é que podemos ser diferentes? Procurando a paz interior, a bondade e o respeito interior e exterior. Para isso, devemos ouvir mais do que falar, devemos pensar antes de agir e que a nossa ação procure ser reparadora. E em grupo temos de o fazer numa extensão muito superior, pois cada membro terá de ser tratado da mesma forma, com a mesma oportunidade de falar e ser ouvido, o que precisa de muito tempo.

Ajuda significativamente compreendermos alguns dos princípios da Terapia Interpessoal - uma das psicoterapias com maior evidência científica. De uma forma muito resumida, a terapia interpessoal baseia-se na análise de um momento de crise. Esta crise é compreendida como um luto, uma transição de papel ou um conflito interpessoal. A crise interpessoal gera sofrimento intenso que pode facilitar o desenvolvimento de uma doença mental. Praticamente todos os eventos negativos podem ser encaixados num destes tipos de crise. O luto como a perda. A transição de papel como a mudança. O conflito como o impasse. Uma das estratégias passa por envolver as pessoas significativas, pedindo ajuda e aumentando a sua presença na nossa vida. A segunda grande estratégia é a análise de comunicação que nos permite perceber o quão desapropriados muitas das vezes somos, mesmo com boas intenções. Os mal-entendidos são a principal forma de lesão comunicacional e por acreditarmos que os outros sabem o que se passa connosco. Devemos procurar transmitir de forma simples e direta o que sentimos e ter tempo para corrigir e resolver os mal-entendidos.

Apesar de falarmos desde pequenos, temos grandes falhas na comunicação. Falemos com honestidade e bondade, muitos dos problemas se resolverão.

OPINIÃO EM DESTAQUE
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