Maio é o mês em que celebramos a Primavera. Festejamos a diversidade da flora da nossa ilha e a beleza da natureza. É neste mês, que se celebra a Festa da Flor, “(...) um dos maiores eventos culturais e turísticos da Madeira, (...) uma celebração da beleza e diversidade das flores da ilha. E claro, é uma festa que atrai milhares de visitantes.
É um evento que apela à esperança e à paz do mundo, através dos muros da esperança. É uma mostra cultural, que promove espetáculos e tradições, como a criação de tapetes de flores. E é mais uma festa onde se celebra com um cortejo alegórico, onde milhares de flores desfilam pelo funchal.
Mas o objetivo principal, desta festa, é este: uma festa que atrai ainda mais turistas, e que, claro, mais uma vez promove o crescimento económico, não fosse a Madeira uma ilha que subsiste do turismo.
Eu gosto de festejar a primavera, gosto de abraçar a natureza, de passear na natureza e de valorizar a nossa Laurissilva. Mas não me sinto em flor nem feliz, com esta maravilhosa festa.
Festejar a flor deveria ser sim, valorizar a natureza. Na Primavera, o objetivo seria valorizar a beleza das nossas serras e investir na preservação:
- Deveria ser criar iniciativas para não destruir sítios como o Fanal;
- Seria limitar o turismo exagerado em locais endémicos e protegidos;
- Deveria ser controlar a construção desmedida de empreendimentos e recuperar mais casas devolutas;
- Seria não sobrecarregar a ilha com pessoas e pessoas e carros de aluguer que não beneficiam em nada a natureza, quando não têm consciência de sustentabilidade;
- Deveria ser, não importar milhares de flores que não são nossas, para desfilar num cortejo alegórico, que é bonito à vista, mas que mobiliza muito dinheiro, que é investido apenas para um dia.
- Seria não deitar fora e desperdiçar todas essas flores.
É uma festa bonita, sem dúvida, e não quero com isto, desvalorizar todo o trabalho desenvolvido. Mas acho que deveria ser repensada com atividades que, realmente, trabalham a sustentabilidade e que respeitam o santuário que é esta ilha maravilhosa. E mais, neste momento não faz jus ao espírito madeirense.
Não, não estamos em flor!
A “sociedade rica madeirense” e os empresários de hotelaria ou de AL com certeza que estão em flor, mas e o povo madeirense?
Que benefícios económicos tem o povo com estas festas? Que benefícios têm com o crescimento de turismo na ilha? Quem enche a carteira? Que flor envenenada nos tem sido oferecida?
Desculpem, mas não estamos em flor! E isso, deixa-me triste, muito triste! Há crescimento económico, mas o povo perde poder de compra, não tem ordenados dignos para poder suprir necessidades básicas, como um teto para dormir, e endivida-se.
O Povo não está em flor! Está a ficar difícil! Como sobreviverá o povo que é o que mais contribui para esta festa? Onde irão dormir as crianças? Que custo real tem todo este turismo?
É frustrante, ser ilhéu, gostar desta ilha maravilhosa, querer investir e trabalhar na ilha, constituir família e perceber que o respeito dos próprios governantes pelos seus conterrâneos é, praticamente, nulo!
Madeira! A ilha da flor! A festa do turismo e a desgraça do povo!
Não, não estamos em flor!
Carina Teixeira escreve à segunda-feira, de 4 em 4 semanas.