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Artigo de Opinião

Investigadora do CIE-UMa

17/01/2021 08:00

1º. Que o nosso sistema educativo não estava preparado para o ensino à distância;

2º. Grandes assimetrias entre escolas, docentes e famílias, não apenas no acesso a recursos digitais, mas também no domínio da literacia digital;

3º Grandes desigualdades socioeconómicas e culturais que, com maior ou menor impacto, potenciam as assimetrias do ponto anterior.

Estas conclusões mostram que os desígnios da igualdade e equidade educativas estão muito longe de se alcançarem. Por um lado, as velhas desigualdades ou desigualdades estruturais (que se situam a montante da escola) tendem a acentuar-se em tempo de pandemia. Por outro, a incapacidade do nosso sistema educativo em debelar as velhas desigualdades tem contribuído para fazer emergir novos problemas que, num contexto de pandemia e fora dele, geram novas desigualdades. Não podemos esperar que a escola, por si só, resolva o problema da desigualdade social. Mas é expectável que, identificados alguns problemas, como a desigualdade de recursos, a resposta à sua resolução não fique apenas no domínio das intenções.

A universalização digital, para as escolas e para as famílias, requer um plano nacional urgente. E não basta (apenas) dotar as escolas e as famílias de computadores, embora necessários. Não se compreende que, em pleno séc. XXI, com a revolução digital ao rubro, a maior parte das salas de aula não tenham computadores. Mas é preciso resolver um problema de base que mina qualquer projeto, no âmbito das Tecnologias da Informação e Comunicação - dotar as escolas e as casas das famílias de redes e de serviços de nova geração, sobretudo nos territórios de baixa densidade. É necessário que a fibra ótica chegue, rapidamente, aos territórios que dela necessitam. Não é possível desenvolver competências digitais com redes deficitárias, com a internet "sempre a falhar". Os professores sabem do que estou a falar. Esta é uma emergência educativa que não se resolve com medidas avulsas e que pode ser resolvida com a implicação das localidades, dos municípios e das empresas, dando-lhes, obviamente, contrapartidas e condições para poderem ser parte da solução. E estou convencida de que uma verba dos Fundos Estruturais da Europa será (deverá) ser canalisada para este fim.

Depois de resolvido este problema de base, dos recursos e da sua eficiência, estaremos em condições para passarmos à resolução do segundo problema: a literacia digital. É preciso educar para e com os media. Isto implica trabalhar duas dimensões: 1). trabalhar os media e os recursos digitais como recursos pedagógicos (utilização destes recursos para trabalhar os conteúdos curriculares e outros conteúdos relevantes para os projetos educativos) e 2). como objeto de estudo (compreender os códigos, as linguagens, as técnicas, o caráter ilusório do que é veiculado, as representações da realidade, entre outros aspetos).

As escolas e os centros de formação têm vindo a apresentar, nos seus planos, algumas formações, sobretudo no âmbito do primeiro ponto. Mas é importante (e necessário) que os planos de formação em literacia digital extravasem as escolas e se desenvolvam também noutros contextos (laboral, social, familiar).

Na altura em que escrevo esta crónica, desconheço as intenções do Governo relativamente à possibilidade do encerramento ou não das escolas. Os argumentos para qualquer decisão (encerrar/não encerrar) são, na minha perspetiva, legítimos. Seja qual for a opção do Governo, que a experiência do primeiro confinamento nos permita a todos (sociedade civil, docentes e famílias) dar a melhor resposta educativa possível aos nossos alunos, com maior serenidade, bom senso e, preferencialmente, com metodologias mais inovadoras e menos instrucionistas.

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