Os dias que correm são estranhos, há algo neles que rejeitamos profundamente! O padrão social é obviamente dinâmico, e esse dinamismo é sinal de evolução das sociedades, com um objectivo e propósito superior.
A marca do tempo poderia ser o primeiro culpado desta rejeição, estas novas gerações cresceram num mundo em rápido desenvolvimento, a tecnologia e o mundo digital floresceram, e as dificuldades modificaram-se, sabendo que as mesmas tem vindo a esbater-se com o passar dos séculos e com a evolução do homem, sendo hoje mais as dificuldades criadas pelo Homem, muitas num plano mental, do que na dureza da realidade física existencial (escassez de recursos, falta de assistência em saúde, insegurança alimentar, conforto vivencial).
No fundo se a culpa fosse do tempo, a rejeição seria pessoal, no limite, geracional, e não mais seria, que a não aceitação da passagem do tempo, e a incapacidade de adaptação a esta nova consciência colectiva.
Mas não é este o caso. Esta mudança silenciosa do paradigma social, é mais profunda, gera rejeição, e uma aversão à verdade, não por esta não ser possível, mas por ser absurda ao ponto de colocarmos em questão, se não estaremos a fazer parte de um qualquer sketch de comédia. Alerto que o absurdismo de Camus, bem acentuado na sua frase - “o absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites “, induz à aceitação do mesmo, com criação pessoal do sentido vivencial, é para mim válido, mas deverá continuar alicerçado em razão e racional.
Ora nos dias que correm, a emoção ganha relevo ao invés da razão. Obviamente que esta projeção de verdades, induz mais ao conflito do que à Paz. O que eu sinto não é necessariamente real, poderá facilmente ser imaginado, e se cada um de nós, viver uma verdade diferente numa realidade unívoca (que é), o conflito, a discórdia, o confronto serão o caminho e o fim.
O futuro que sonhamos não corresponde a realidade, havia elevação nesse sonho, comunhão entre povos, aprendizagem continua, respeito a tudo o que nos rodeia, a criação continua de um ser superior, não necessariamente perfeito, mas cabalmente melhor.
Todo este sonho de futuro está a ruir, com a falta de padrões referenciais que norteiem a ação humana, por um lado vivenciamos o choque do niilismo existencial, da morte do sentido e do vale tudo, associado ao paulatino desaparecimento da razão, depois veio a extrema relevância dada ao sentir. Acredito piamente no sentir, ele é fundamental como nos diz Honoré Balzac “raciocinar onde é preciso sentir, é próprio das almas incapazes”, mas não é o sentir que dita a realidade pois ela é unívoca, dita sim verdades muitas das vezes, sem qualquer sustentação racional.
O pensamento cartesiano é colocado em xeque, como tal, as verdades que daí advém são volúveis ao sentir.
Não podemos ficar reféns de verdades emocionais que não tem correspondência na realidade, correndo o risco de viver em delírio e ilusão, com todos os riscos mentais que isso acarreta.
No entanto assiste-se a uma imposição de verdades, os media dão espaço propositado à desinformação, existe demasiado viés de simpatia na informação, nos comentários e comentadores e nos partidos, demasiada emoção e pouco racional, este vem perdendo espaço e a erosão da sua ausência provoca a estupidificação.
Por exemplo, os media diariamente assoberbam-nos com fome e guerra, e estranhamente não há uma palavra para o continente onde infelizmente, mais se padece com tudo isso, África que foi propositadamente vetada ao abandono pelos média.
A desilusão existe, pois, o Homem é capaz de construir aquele futuro sonhado, no entanto optou por outro rumo...
Deixo-vos com José Régio – “Cântico negro”
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!