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Artigo de Opinião

6/02/2025 08:00

Há cerca de 30 anos tivemos duas declarações marcantes por parte de figuras do dirigismo desportivo. José Roquette, presidente do Sporting, afirmava com enfado “não percebo nada[sic] de futebol!”, revelando que o desporto-rei era coisa de somenos, destinado a almas menos nobres. Já Gaspar Ramos, do Benfica, declarava que “o futebol não é uma ciência oculta”, insinuando que, nem era especificidade estrita de eleitos, nem ao alcance de qualquer boçal desconhecedor de Dunning- Kruger. Também na política é assim. Numa altura em que toda a gente acha que pode ser político ou gestor da coisa pública, e que alguns consideram restrito a iluminados, existirá um meio termo que favoreça a concertação entre inclusão da sociedade civil e a sã administração do interesse público.

A verdade é que vivemos na “Sociedade do Cansaço”, como lhe chamou Byung-Chul Han. Nunca vivemos tão bem, mas poucas vezes nos sentimos tão desconfortáveis, tão fatigados. Estamos cansados porque não temos tempo para refletir. Tudo acontece ao mesmo tempo, a toda a hora, como que materializando o filme dos “Daniels”, de 2022. As pausas são também elas frenéticas, quando existem. Estamos deprimidos quando não temos “programa”, e deprimimos por termos sempre algo que fazer. Se perguntarmos ao comum mortal se vive melhor, se está satisfeito com o(s) governo(s), ou se considera que estamos em crise, este pintará o pior dos cenários. Mas, na verdade, terá dificuldade de materializar com exemplos esse estado premente (e permanente) de crise.

Se estamos sempre em crise, então já não estamos em crise. É o novo normal. As pessoas queixam-se, referem um cansaço, e porventura estarão. Mas isso não tem paralelo com o que acontece na realidade. Ainda que a grande maioria se sinta “revoltado”, e “pensando pela própria cabeça”, a literatura aponta para tempos, como nenhuns outros, em que a população encarreira. Seja em que sentido for. Um misto de anestesia e domínio pelo entretenimento, como postulava Neil Postman em Amusing Ourselvs to Death (defendendo que a distopia Huxleyniana vingaria sobre o Orwellianismo, o circo invés da chibata), e a irresistível atração pelo poder, recorrendo ao pensamento do já citado Byung-Chul Han. Contudo, ao contrário do coerano, não considero que Focault esteja “morto”. O “respeitinho” enquanto modos vivendi, continua vivo e recomenda-se, aparentemente.

Aqui chegados, estamos novamente em tempos de escolhas políticas. E nunca como nos últimos tempos, chegamos à conclusão que estas devem ser feitas com especial cuidado. O caso das malas, de um deputado do CHEGA, recorda-nos que o campo de recrutamento do exercício do cargo público não pode ser tão lato que possa englobar empedernidos ou aventureiros. E sim... muitos dos novos partidos, nomeadamente os de protesto, alimenta-se do caixote do lixo dos (tão criticados) partidos do sistema (anterior “arco governativo”). E não há formulários, como o que inventou Costa, que nos valham porque, tal como nos CV’s, quem já prevaricou, não tem qualquer problema em mentir nestas burocracias sancionatórias. Só vai lá com um bom senso profundo, e conhecimento das capacidades pessoais, técnicas, políticas e do caráter de cada um dos escolhidos. Alberto João Jardim dizia há pouco mais de 1 ano na RTP que escolhia para o parlamento três perfis de deputados: um mais técnico, um mais político, e outro que implicasse uma grande empatia com a população.

Temos também aqueles que têm um perfil mais executivo, mas que insistem em ser deputados, na indisfarçável ânsia de serem notados. Fatalmente, e como diz o povo (que também merece ser citado), “dá erro”!

Aproximam-se mais umas eleições e nunca como antes há a hipótese de que outros comandem a nossa terra. Não por mérito próprio, mas porque o tal cansaço, tão bem descrito pelos gigantes do pensamento, nos conduziu a este plano. Mas também nunca a oposição teve tão poucos e tão sofríveis quadros. Governar a Madeira não é a tal ciência oculta, mas está muito longe de ser uma tarefa que qualquer patusco possa empreender. Não é uma junta, e está mais próximo da complexidade de governar um país, do que de gerir uma autarquia. Há salários para pagar, crianças para educar, vidas para salvar, e uma economia para continuar a funcionar. Não estando isento de falhas, a governação do PSD tem sido extremamente eficaz, como demonstram os números, principalmente porque nunca como dantes os sociais-democratas aglutinam os melhores quadros (a tal atração de Byung- Chul Han). e isso não mudará, num ápice a 24 de Março, não obstante a transumância oportunista de fidelidades. Ainda que esse excesso de recursos conduza por vezes a escolhas infelizes e à remissão de craques para o banco dos suplentes. Por essa razão, e por que a teoria do caos ensina que até este encontra uma norma-padrão, uma estabilidade, é demasiado arriscado fechar os olhos e apostar no aventureirismo, no “seja o que Deus quiser”! responsabilidade exige-se, a todos.

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