"Ele ama-me, não fez por mal. Eu é que não devia ter feito o que fiz. Nem devia ter dito aquelas coisas, provoquei-o. A culpa foi minha.", diz ela.
Mais uma bofetada. Era só uma.
"Chamou-me de tudo. Dizia que eu sabia que era o que eu queria, que estava a pedi-las desde que olhei para ele naquela festa. Depois de me ter violado, atirou-me do carro como se fosse lixo."
"Ainda tenho pesadelos; tenho medo de encontrá-lo."
"Tenho medo que me mate, mas não posso fugir. Vou fugir para onde?"
Mais uma morte. Mais uma mulher.
"Pensava que, quando ia para o trabalho ou para algum lado, me ia encontrar com um homem e começou a ficar violento. Quando chegava a casa agredia-me verbalmente. Depois começou a agredir-me fisicamente. Dava-me pontapés e bofetadas na cara, puxava-me os cabelos."
"Só parou porque apresentei uma queixa-crime. Na altura, não conseguia ir sozinha a nenhum lugar, tinha sempre medo que ele estivesse lá. O meu pai ia levar-me e buscar-me ao trabalho."
Para as mulheres que passam por situações semelhantes aos testemunhos que aqui partilho, quero apenas deixar um conselho a todas as vítimas que, neste momento, sofrem em silêncio: Não permitam sequer a primeira bofetada.
A agressão não é um ato de amor, é violência. Justificar que o ciúme acontece porque 'nos amam demasiado' não é amor, é violência. Acreditar que 'ele vai mudar' é uma ilusão; quem agride uma vez, agride sempre, é uma questão de tempo.
Uma bofetada, um pontapé, um insulto. Não é 'só mais um'. É mais um do que deveria ser permitido. A culpa não é sua, é de quem lhe bate. A culpa é de quem a agride. Não tem nada a ver com as suas escolhas. É ele que interfere na sua liberdade, nas suas escolhas, é ele que não a respeita.
Ninguém pede para ser agredido. Ninguém merece. E se alguém lhe diz que merece, está a enganá-la, a manipulá-la. A vida é sua, o corpo é seu, não é propriedade dele.
Não tenha medo, não se esconda. Peça ajuda, por favor. Não deixe que estes agressores calem mais uma mulher. Não desista de si própria. Não está sozinha.