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Artigo de Opinião

6/02/2025 08:00

Frei Tomás ficou conhecido pelos seus sermões, nos quais denunciava as imoralidades praticadas pelos fidalgos na corte. Nos tempos atuais, pregadores com boas intenções continuam a não faltar.

Veja-se o caso do Bloco de Esquerda (BE) que, soube-se recentemente, entre 2022 e 2024, despediu mulheres com bebés de poucos meses e que estavam a amamentar.

A situação já é má que chegue, mas ainda piora se tivermos em conta que, publicamente, este mesmo partido se assume como um defensor de legislação mais adequada para grávidas e lactantes.

Em 2015, por exemplo, o BE dava voz a um conjunto de propostas para reforçar a proteção das mulheres grávidas, puérperas e lactantes no mercado de trabalho, área sobre a qual se voltou a debruçar no ano transato, com um projeto de lei que visava garantir mais direitos a ambos os progenitores.

Não raras vezes, deputados e deputadas deste partido encheram a boca para falar de igualdade; para lamentar – imagine-se – que “uma parte da desigualdade salarial entre homens e mulheres pode ser explicada pelas desigualdades que advêm da maternidade e da má distribuição das tarefas domésticas e de apoio à família” (Catarina Martins dixit); e – melhor – que “um país que não protege as suas grávidas e as suas crianças é incapaz de pensar o seu futuro”.

Deus Nosso Senhor há de me conceder, um dia, a paciência com a qual não fui abençoada à nascença para perceber gente que, no púlpito, defende mulheres e, nos bastidores, as enxovalha e as enxota.

Já tive oportunidade de dizer, na Assembleia Municipal do Funchal, perante membros do Partido Socialista (PS) e do BE muito ofendidos, que a igualdade de género não tem donos, que a defesa das mulheres não é propriedade de ninguém e que nem Bloco de Esquerda, nem qualquer um dos seus comparsas, nos vão divergir do objetivo que é reforçar a igualdade de género. Em todas as situações, no que se diz nos parlamentos, mas, principalmente, no que se faz fora deles.

A igualdade de género e a defesa das mulheres no mercado de trabalho foi sequestrada por meia dúzia de pessoas, por cá e em palcos nacionais, que se consideram acima da lei e da moralidade, mas que, sabemos todos, não primam a sua conduta por esta mesma defesa.

O caso do Bloco de Esquerda veio, felizmente, à luz do dia, nos meios de comunicação social nacionais, mas de outros casos reza a história e a memória quando, por exemplo, o PS (des)governava a autarquia do Funchal...

Temos todos (e todas, se quiserem) obrigação de conhecer o caso das trabalhadoras despedidas pelo BE.

Primeiro, porque cada notícia assume contornos mais novelescos e que causam vergonha alheia. Segundo, porque é o exemplo claro daquilo que não queremos na vida pública.

A igualdade de género tornou-se arma de arremesso por causa de gente como esta. É por isso que aquele “salto de gigante” de que Catarina Martins falava e que dizia ser crucial nesta área para garantir que existe – mesmo - igualdade entre homens e mulheres tem de ser dado por cada um de nós. Sem o peso da posição pública, desprovidos da intenção partidária, mas, unicamente, com a legítima vontade e a pura aspiração de melhorar a vida dos outros.

Que sejamos lembrados pelo trabalho de formiga, mas jamais colados ao ditado de que “bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz.”

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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