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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

28/04/2022 08:01

Menciono sempre o caminho do Bem, como o único possível, e não tenho a menor dúvida que esse é o único que traz Futuro, alicerça a vida em Amor, promovendo uma vida em Paz espiritual e física. No entanto, observando a sociedade e o Mundo actual percebemos que nos encontramos distantes desse objectivo.

Desilude-me quem considera pueril, naïf ou até ingénuo, o acreditar no Caminho do Bem como, mais que possível, uma realidade, julgo ao invés, que não acreditando assumimos a derrota da humanidade e o princípio do fim da existência, pois só existimos em Amor e Paz, tudo o resto é o caminho que leva ao fim.

Se o Homem é o resultado da evolução, seria um sofisma que a mesma comportasse, guerra, iniquidade, dor, sofrimento autoinfligido, Homem vs Homem. Filosoficamente o Futuro deverá trazer-nos conhecimento, Paz e Amor, o comportamento fratricida é, portanto, contrário à existência num quadro racional.

Uma das iniquidades no processo vivencial que me assoberbam de impotência é a pobreza. É factual que o Homem não necessita de posse para viver, que na realidade nada possuímos, estamos de passagem e a única marca que deixaremos será o amor que dediquemos a tudo o que nos rodeia.

A pobreza encerra em si o condicionamento monetário, limitando a miríade de hipóteses da vida, mas pior é um ciclo castrador de vida, enquanto existência na pobreza, é o ciclo da pobreza e da doença, "Quanto mais doente mais pobre, e quanto mais pobre mais doente" Relatório Primavera 2017, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), é o relatório da OCDE em 2018 que indica que são necessárias 5 gerações ou 150 anos para sair da pobreza, sabemos também que, "A pobreza aumenta o risco de doença mental, podendo ser a causa mas também a consequência da doença mental" Poverty and mental health A review to inform, the Joseph Rowntree Foundation’s Anti-Poverty Strategy ago2016, e para somar ao infortúnio temos que, "a pobreza intensifica a solidão" - Young and Lonely: The Social Conditions of Loneliness - Janet Batsleer and James Duggan, ou seja a pobreza tem de ser observada não como um mero deficit financeiro, é possível existir e ser feliz sem posse, mas existe um condicionalismo social de tal ordem castrador, que coloca a pobreza numa espiral descendente e de difícil recuperação, levando a um preconceito sobre o tema e a um efeito devastador a quem se vê na situação, quase de sufoco, e de aceitação difícil ou quase impossível. Na génese está uma sociedade que não estende a mão, que não ama o próximo, que não permite nem cria oportunidades, que se serve da pobreza, que usa do seu dedo acusador, que escolhe não ver e que o justifica, que observa a realidade como acto e consequência sem quês nem porquês.

Por estes dias, tomei conhecimento de um desses casos reais, como tantos outros, uma história de vida difícil, vida essa solitária apesar de ter família, a sua vida resumia-se a um quarto alugado, uma vida de trabalho resumida a um quarto alugado, e a morte, sem intervenientes e natural, bateu à porta para retirar dessa solidão, o que ficou? O vazio e a desilusão de termos mais uma vez falhado enquanto sociedade.

Em 2007, Rui Simões cria um documentário sobre a pobreza - Ruas da Amargura- é um momento de reflexão obrigatório, transporta-nos para um existencialismo profundo, qual deverá ser o nosso propósito aqui? Existirá outro que não o Amor? A pobreza não é mais que um absurdo existencial, e "O absurdo é a razão lúcida que constata os seus limites" ACamus.

A vida rege-se por interesses, uns mais elevados que outros, mas não haverá mais elevado que a própria Vida, com tudo o que ela encerra, e não temer pois, "Onde nada existe, Deus existe" WB Yeats.

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