As profecias da urgência climática e do prometido apocalipse ecológico, agudizam a vozearia. Somos embalados pelos magos da doutrinação que, confortavelmente instalados no privilégio metropolitano, pregam-nos o sacrossanto «pensar global, agir local». E, como não há "Planeta B", a virtude, dizem, está no regresso ao naturalismo original. Ladainhas que, para mim que sou "de campo", significam: «faz o que eu digo, não faças o que eu faço»!
Por cá, os acólitos do "eco-ativismo urbano" não escapam a esse desejo de ser igualmente evoluídos e progressistas. E quem não concordar com tudo aquilo é tolinho! E, volta e meia, rasgam as vestes para nos resgatar - a nós, os "de campo" - dos horrores do capitalismo metropolitano e preservar a nossa felicidade na paz dos passarinhos!
Mas depois vem a realidade, que nos convoca a encontrar um compromisso de equilíbrio entre o progressismo salvífico e a concretude das necessidades da vida quotidiana. Para aqueles que têm responsabilidades de governação autárquica, este caminho é estreito.
Proponho, por isso, que peguemos no caso de Câmara de Lobos. Aqui, a paisagem agrícola é um elemento caraterizador do território: é o concelho com a Superfície Agrícola Utilizada mais elevada e com mais explorações agrícolas (34,4% da área da freguesia de Câmara de Lobos e 30,2% do Estreito é reservada à atividade agrícola). Acresce referir que quase 70% do território é classificado como espaço natural ou florestal.
Desde o vasto manto dos vinhedos do Estreito; passando pelas texturas visuais dos hortícolas da Caldeira ou da Quinta Grande, dos bananais de Câmara de Lobos ou dos pomares do Jardim da Serra; aos socalcos cerzidos no recortado dos vales do Curral das Freiras, a paisagem agrícola no concelho é uma presença dominante. É um fator territorial distintivo! É um importante recurso económico, mas também um ativo diferenciador do destino turístico «Madeira».
Confrontados entre a urgência da sustentabilidade e o legítimo desejo de progresso, uma questão impõe-se: que modelo de território queremos?
Esta é uma reflexão que não se restringe ao concelho. É uma responsabilidade coletiva! E a solução não passa, de todo, por enfiar a cabeça num buraco, para não chatear a natureza e os seus defensores.
Sem deixar de valorizar o legado patrimonial e identitário que carateriza esta geografia agrícola, a gestão territorial tem de proporcionar - ao "campo" - o mesmo bem-estar reservado aos espaços urbanos.
Não é, pois, de mais ambicionar, ainda mais, investimento em infraestruturas; mais acessibilidades locais, pois a "política do betão" só é desnecessária para aqueles que já têm carro à porta de casa; e novos investimentos que reforcem a competitividade territorial e atraiam mais gente, para viver, trabalhar e visitar.
Numa região turística como a Madeira, a preservação da paisagem natural e agrícola não é um custo ou uma obrigação exclusiva dos que lá habitam. Tal como às cidades, às "serras" tem de ser garantido o mesmo direito de acesso ao conforto, de equivalentes facilidades de mobilidade, de modernização das suas economias, de urbanização sustentável dos seus territórios e de valorização económica e patrimonial das propriedades.
O "campo" e as serras não podem ser territórios para "inglês ver". São espaços onde vivem pessoas!