MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Doutorada em História / Investigadora

14/05/2025 08:00

Hoje, escrevo sobre o sono. Sobre a sua privação. É nesse estado em que me encontro. Uns, os meus mais velhos, dizem-me que é da idade. Outros, também jovens há mais tempo do que eu, dizem que com o acumular dos anos, dormimos menos. Mas, é mais do que tudo isso. Acredito. No outro dia, numa reportagem da BBC, entrou-me pela casa adentro, um armário-cama do século XVIII. Em princípio, pensei cá para mim, que poderia ser o remédio para as minhas noites mal dormidas. Mas, logo a seguir, a sensação era a de que até me faltava o ar. Um pouco claustrofóbico, para os nossos tempos. A cama-armário, estaria em exposição permanente em Wick, no norte da Escócia. Mas, podia esta reportagem ter tido lugar, em qualquer parte da velhinha Europa.

O que parece ser um guarda-roupa de pinho, particularmente grande, para um T1 dos nossos dias, seria, neste caso, uma cama-armário ou cama-caixa. As camas-armários foram um verdadeiro sucesso durante toda Idade Média na Europa. Essa popularidade chegou aos inícios do século XX. É uma espécie de móvel no qual guardamos as roupas, mas sem cabides ou prateleiros, que servia para uma pessoa - ou uma família inteira -, passar uma noite tranquila de sono. Também conhecida como cama fechada, esta caixa de madeira ou armário-cama, era utilizada para dormir, por qualquer pessoa ou família, independentemente da classe social. Tanto pobres como ricos, recorriam a este modelo, só diferenciado na sua decoração. As mais sofisticadas, tinham porta, em madeira gravada, as outras, mais populares, apenas uma cortina, a isolar o espaço destinado a uma noite de sono. Algumas tinham pés, para evitar a humidade do solo. O tamanho, a decoração e outros pormenores variavam, mas o conceito, esse, era o mesmo e as vantagens também. Desde 1948, que a Organização Mundial de Saúde, define a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, psíquico e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”, que pode ser entendida como uma interação de acontecimentos sociais, psicológicos e biológicos. Ora, o sono é um processo biológico natural do organismo, e condição essencial, pelo menos para mim, para a reparação e manutenção do equilíbrio bio-psico-social. De todo o ser humano. São sagradas as minhas horas de sono. Mesmo que feitas por partes. E, não é da idade. Dormir menos de 6 horas por noite pode contribuir para diminuição da capacidade de concentração e desempenho cognitivo. Pode igualmente potenciar a dor. A verdade é que o sono tem um papel crítico na promoção da saúde.

Em toda a linha. Durante o ciclo vital. De acordo com a Associação Portuguesa de Sono, pesquisas realizadas na última década, documentaram que o distúrbio do sono tem uma influência poderosa no risco de doenças infeciosas, na ocorrência e progressão de várias doenças médicas importantes, incluindo as doenças cardiovasculares e a depressão. As causas para este distúrbio, são variadas. Mas, julgo ser cada vez mais importante avaliá-las. Sobretudo, falar delas. E do sono. Do seu impacto na nossa vida. Os estilos de vida exigentes, o stress, os postos de trabalho com longos expedientes, o regime de horários rotativos ou por turnos, o efeito de jet lag, as exigências familiares e as solicitações sociais e o acesso difundido aos meios de comunicação, constituem atualmente, as principais causas ambientais e sociais de privação do sono. Está tudo estudado. Temos de estar atentos, vigilantes. Fazer opções.

O sono é, em primeiro lugar, um comportamento. Desempenha um papel fundamental na recuperação da energia para o dia seguinte, no equilíbrio metabólico e no desenvolvimento físico e mental. Paralelamente, do outro lado do mundo, investigadores da Academia Chinesa de Ciências identificaram uma nova alteração genética, que faz com que alguém precise de menos horas de sono do que os outros. A descoberta pode ajudar a desenvolver terapias no futuro. Segundo estes investigadores, a necessidade de dormir não é igual para todos. Depende de vários fatores e, para algumas pessoas, o descanso imprescindível pode mesmo ser mínimo. Tudo graças a uma rara mutação genérica. A mutação no gene SIK3 permite ao cérebro funcionar com menos descanso do que o normal. Mas, o que é o normal? Seis, sete ou oito horas de sono diárias, por noite? Deixo-vos com estas pistas para potenciais estratégias terapêuticas para melhorar a eficiência do sono, para matutinos ou vespertinos. A diferença também reside no nosso ser: cotovia ou mocho? Estejam atentos. Pela vossa saúde.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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