MADEIRA Meteorologia

Relatório europeu mostra ceticismo no combate à corrupção em Portugal

Data de publicação
10 Janeiro 2024
22:20

O relatório do grupo GRECO sobre corrupção hoje divulgado “mostra o ceticismo dos avaliadores internacionais” para com “um vício antigo em Portugal” de “fazer muitas leis e implementar poucas ou nenhumas”, defendeu o vice-presidente da associação Frente Cívica.

“O que este relatório mostra é que os avaliadores externos estão bastante céticos em relação a um país que passa a vida a aprovar leis e depois não implementa as leis que aprova, no caso estamos a falar de leis de prevenção da corrupção ao nível do Governo que dependem de instituições que não estão a funcionar”, disse o vice-presidente da Frente Cívica, João Paulo Batalha.

Nomeadamente, no relatório da 5.ª ronda de avaliação do Grupo de Estados Contra a Corrupção (GRECO), do Conselho da Europa, é apontado que a legislação assenta em instituições que ainda não estão a funcionar na sua plenitude, como o Mecanismo Nacional Anticorrupção (MENAC) e a Entidade para a Transparência, que, referiu João Paulo Batalha, têm “um papel fundamental no que toca à fiscalização da integridade dos responsáveis governamentais”.

Para João Paulo Batalha, este relatório “mostra que esta estrutura de combate à corrupção assenta em leis que depois ao não se traduzirem em nada na prática são uma ficção de prevenção e de combate à corrupção”.

O GRECO do Conselho da Europa apelou hoje a Portugal que melhore a eficácia do sistema para prevenir a corrupção nas principais funções executivas do Governo e nas agências de aplicação da lei.

O GRECO reconhece que Portugal desenvolveu um extenso quadro jurídico e institucional anticorrupção, mas a eficácia deste quadro depende fortemente da plena operacionalidade do MENAC e da Entidade para a Transparência, o que ainda não aconteceu.

O relatório sublinha que todas as pessoas com funções executivas de topo devem ser sujeitas a verificações de integridade eficazes antes de ingressarem no Governo, bem como a restrições pós-emprego, e devem ser obrigadas a apresentar declarações de bens e interesses.

Outra questão que preocupa o GRECO é a transparência dos contactos entre altos funcionários executivos, lobistas e terceiros, que o organismo do Conselho da Europa considera que merece mais avanços.

Sobre esta matéria, João Paulo Batalha referiu que o GRECO “reconhece que esta é uma área completamente nebulosa em que as influencias sobre as decisões públicas e sobre a legislação se fazem sem controlo e, portanto, sem capacidade de escrutínio”, sendo “uma lacuna grande que precisa de ser corrigida”.

O responsável lamentou a forma como o parlamento português “à última hora iniciou um processo legislativo” sobre o lobby, algo que “não aconselha grande celebração”, pela ausência de discussão pública, o que já aconteceu anteriormente e “com um resultado sempre insuficiente ou mau”.

Apesar de não acreditar que a legislação em discussão ainda venha a ser aprovada nesta legislatura, João Paulo Batalha aponta, no entanto, “uma lacuna muito grande, que é deixar de fora os advogados, que são os grandes lobistas em Portugal”.

A legislação em discussão proíbe, à partida, os advogados de fazerem lobby, referiu, mas não proíbe que mantenham reuniões com decisores políticos no âmbito dos seus atos próprios, algo que não é fiscalizado e que, na prática, permite aos advogados continuarem a fazer lobby, “mas sem estarem sujeitos às regras de transparência, aos registos das reuniões e aos processos escrutináveis que são a marca da regulação que se pretende impor”.

João Paulo Batalha sublinhou que a legislação em discussão tem “como impulso fundamental a Operação Influencer”, processo no âmbito do qual foi constituído arguido Diogo Lacerda Machado, advogado e melhor amigo do primeiro-ministro, cuja defesa alegou estar a fazer aconselhamento jurídico para a empresa que o contratou, portanto a exercer a sua atividade.

“É muito duvidoso que aplicando-se a lei que está em discussão esta penalizasse de alguma maneira, ou permitisse sequer conhecer de forma escrutinável, o comportamento de Lacerda Machado e as reuniões que teve”, disse

“Se estamos a fazer uma lei em reação ao caso da Operação Influencer e percebemos que a lei que está a ser feita dificilmente preveniria o caso Operação Influencer estamos claramente a falhar. Isto é um dos problemas que o GRECO claramente sinaliza, que é fazermos as leis de forma pouco pensada, pouco discutida, apressada, mal feita, e depois as leis são inócuas no terreno, ou porque estão mal desenhadas, ou porque não são implementadas, ou pelas duas razões ao mesmo tempo”, acrescentou.

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Como avalia o desempenho das autoridades no combate ao tráfico de droga?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas