A 6.ª edição do ‘Madeira Art Fest’ assume-se, em 2025, como um manifesto vivo de descentralização e resistência cultural. Entre o contemporâneo e o ancestral, o festival culmina agora numa grande exposição coletiva no Centro Cultural John dos Passos, que inaugura amanhã, às 14h00.
A exposição é um diálogo entre gerações. De um lado, a criação contemporânea de Carina Mendonça, Coletivo Arte Sem Nome, Nuno Berenguer, André Moniz, Óscar Silva, Verónica Passaretti, Eli e Maringa. Do outro, o privilégio de aceder ao espólio de Artur Pestana Andrade (1927-1992).
O espólio de Andrade, músico, professor e crítico musical que tanto deu à música tradicional da Madeira, traz a esta edição obras raras de artistas madeirenses como Anjos Teixeira e António Nelos, António Aragão e nomes que marcam a história da arte mundial como o mestre argentino Alberto Cedrón ao génio nacional Júlio Pomar, passando pelo traço de Tóssan (colaborador de Bertolt Brecht) e a sátira acutilante do francês Siné.
Esta edição foi desenhada em duas fases com um compromisso inabalável com o território. A 1.ª fase, iniciada a 20 de setembro, celebrou o intercâmbio musical e a criação original com as bandas Noves Fora Nada (Évora, num intercâmbio direto com o talento regional das bandas de originais) Indieshop, Mud Revolution e Magma Nox.
A 2.ª fase, que decorreu entre 20 e 29 de novembro, levou o festival ao coração do Faial, São Roque do Faial e Sítio da Feiteira de Cima. Este programa foi a resposta clara à missão de descentralização do festival, focando-se em atividades de arte participativa e educação. Desde espetáculos sensoriais para bebés e teatro de marionetas , até workshops sobre a “Arte do saber fazer” , contou com o encontro da Confraria da Truta e da Sidra onde actuou o jovem talento regional Tiago Freitas (ex-concorrente do The Voice Kids) , o festival provou que a cultura é um recurso de todos, para todos e criado por todos.
Um dos momentos mais emocionantes desta edição é o início da criação de um Herbário de Medicina Popular Regional. Resultado da residência artística no Sítio da Feiteira de Cima, este projeto nasceu da recolha oral direta junto da comunidade sénior. Mais do que um registo botânico, este herbário é um arquivo de “Memória Viva”, onde o conhecimento ancestral sobre as ervas medicinais e os costumes rurais é resgatado do esquecimento para se tornar um recurso valioso para o futuro. É o Património Cultural Imaterial a transformar-se em arte e o saber partilhado.
O ‘Madeira Art Fest’ reforça que a arte é a ferramenta máxima de coesão e inclusão. Ao unir a sabedoria dos idosos do concelho de Santana à visão dos artistas plásticos, o festival assegura que a nossa herança não é apenas um vestígio do passado, mas uma força viva que molda a nossa identidade e dignifica o nosso território.