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Chiclayo, a “cidade do Papa”, torna-se epicentro da comoção num Peru em euforia

Data de publicação
10 Maio 2025
22:14

A cidade peruana que marcou o Papa Leão XIV e onde a sua presença é sentida em cada habitante, em cada esquina, atravessa um estado de comoção histórica num país em estado de euforia crescente.

“Chiclayo é a ‘capital da amizade’ no Peru, mas agora é também a ‘cidade do Papa’. As duas coisas casam-se perfeitamente: a forma de ser do Papa está em sintonia com o sentimento da amizade, tendo os dois a mesma raiz da irmandade. Por isso, o nosso lema agora é ‘Chiclayo bendito’, bendito pelo nosso Papa”, disse à Lusa Janete Cubas, presidente da Câmara de Chiclayo, a cidade na qual Robert Francis Prevost viveu entre 2014 e 2023.

Esta cidade do Norte do Peru tem 610 mil habitantes e é a quarta mais populosa do país, a 770 quilómetros de distância da capital, Lima, e a apenas 14 da costa do Pacífico.

Chiclayo teve um papel crucial na independência do país e nas posteriores guerras travadas contra o Chile e contra o Equador. Por isso, tem também o título de “Cidade Heróica”.

Porém, o mais conhecido é “Capital da Amizade”, devido à simpatia e à hospitalidade dos chiclaianos, tal como dizia um documento do cardeal Robert Prevost quando se naturalizou peruano em 2015, coincidindo com o ano em que se tornou bispo desta diocese.

“O Papa é chiclaiano. É o que diz o documento dele e, por isso, o nosso povo está de festa”, resumiu Janete Cubas.

Assim que a presidente da Câmara viu que o cardeal se tornou Papa, correu para criar uma fotografia gigante que, no dia seguinte, apareceu pendurada na fachada do palácio municipal: “Papa Leão XIV, Chiclayo bendito!”.

“Nos 190 anos de Chiclayo, houve factos que marcaram a história da nossa cidade, como a contribuição desta região para a Independência do Peru. Mas fora dos episódios fundacionais, estamos a viver o momento mais importante da nossa história. O facto de termos um Papa que veio daqui marca um antes e depois na nossa história”, garante Cubas.

O palácio fica ao lado da Catedral de Santa Maria, onde Robert Francis Prevost Martinez foi administrador apostólico e, no ano seguinte, bispo.

Pelas ruas laterais da Catedral, os carros passam a buzinar como se os habitantes festejassem a conquista de um campeonato desportivo. Nas últimas horas, aumentou a quantidade de fiéis que agora se juntam aos curiosos e ao enxame de jornalistas que chegam de todos os países.

Alicia Effio, de 59 anos, é do Conselho Paroquial da Catedral na qual o Papa foi bispo, e partilhou com a Lusa os sentimentos entre os habitantes locais.

“Estamos extremamente felizes. É uma emoção que transborda e que nos deixa sempre com lágrimas nos olhos. Ainda não acreditamos que quem esteve tão próximo de nós, com quem compartilhávamos homilias, amizade e refeições é agora Papa. Quando ele nos dedicou uma mensagem, as pessoas explodiram de alegria”, contou Alicia.

Esse foi o momento em que Chiclayo entrou definitivamente no mundo.

No seu primeiro discurso perante uma multidão de fieis e de câmeras de todo o mundo, o Papa fez um pausa no seu discurso em italiano para dar, em castelhano, um recado aos milhares de chiclaianos que acompanhavam a transmissão, ainda incrédulos: “E, se me permitirem, também uma palavra, uma saudação, de modo particular para todos aqueles da minha querida diocese de Chiclayo, no Peru, onde um povo fiel acompanhou o seu bispo, compartilhou a sua fé e deu tanto, tanto, para continuar a ser a Igreja fiel de Jesus Cristo”.

Foi nesse momento em que os sinos da Catedral tocaram e em que as contidas lágrimas de felicidade dos chiclaianos finalmente escorreram. Uns começaram a telefonar para os outros. As mensagens instantâneas multiplicaram-se por todo o país. A população veio à praça da Catedral como forma de extravasar.

“As pessoas vieram para cá com banda de músicos, com bandeiras e em caravanas de carros a buzinar. Gritávamos, abraçávamo-nos, chorávamos. Parecia irreal, mas era verdade”, contou Lucila à Lusa.

Ao lado da Catedral, Lucila Ramos Bobadilla, de 88 anos, é a dona do restaurante Las Américas, onde era comum ver o Papa no pequeno-almoço e no almoço, sentado ao fundo, a conversar com a dona, com quem mantinha uma amizade desde que chegou a Chiclayo com 58 anos de idade.

“A nossa amizade nasceu assim que ele chegou. Eu coordenava um numeroso ministério da Catedral chamado Adoradores do Santíssimo Sacramento. Ele começo a frequentar o restaurante e a ministrar as nossas missas. Às vezes, até festejávamos os nossos aniversários”, contou Lucila à Lusa.

Para o pequeno-almoço, Robert Prevost costumava pedir um “mixto caliente” (sanduíche quente de presunto e queijo), sumos e café. Para o almoço, os pratos preferidos eram os típicos da cozinha do Norte do Peru: ceviche, cabrito e arroz com pato (diferente do português). Também o especial da casa: um empanado de frango (chicharrón de pollo).

Na entrada da Catedral, ainda há duas faixas póstumas de homenagem ao Papa Francisco. Numa, lê-se: “Vocês rezaram por mim. Agora eu rezarei por vocês”. Noutra, reza a inscrição: “Um pastor com cheiro de ovelha, uma voz de esperança, um coração de misericórdia”.

“Todos os dias, rezávamos o terço pela saúde do Papa Francisco. Dois meses depois, o nosso padre Robert tornou-se Papa. Quem poderia imaginar algo assim?”, refletiu Lucila.

A ‘indústria’ do Papa começa a florescer em Chiclayo. Ao lado do restaurante de Lucila, o restaurante El Trebol, ao qual Robert Prevost não ia, agora promove o prato do Papa: “Hoje, cabrito chiclaiano, o almoço preferido do Papa”.

A feira de produtos regionais, pensada para o Dia das Mães neste domingo (11), é agora a Feira do Papa, que inclui bailes típicos e pessoas a contar histórias de convivência com o Papa.

Quando se pergunta quem tem alguma história pessoal com o Papa para contar, todos levantam a mão, todos mostram os seus telemóveis com fotos pessoais ao lado do agora Pontífice e todos sentem essa necessidade de mostrar ao mundo quão próximos eram de quem lidera agora a Igreja Católica.

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