A V Conferência do Caminho Real da Madeira abriu este sábado com uma intervenção de Miguel Silva Gouveia, que destacou a importância das comunidades, das parcerias institucionais e da crescente projeção internacional dos Caminhos Reais como património cultural identitário da Região.
Perante oradores, moderadores, associados e participantes, Miguel Silva Gouveia afirmou ser “com enorme satisfação” que se iniciava mais uma edição de um encontro já “consolidado no calendário cultural patrimonial madeirense”, dedicado à reflexão séria e informada sobre o equilíbrio entre pessoas, natureza e cultura, bem como ao reconhecimento do trabalho desenvolvido pela associação ao longo do último ano.
O responsável sublinhou que 2025 foi “particularmente marcante” para o projeto, recordando que, em abril, partiu de Santana a 8.ª Volta à Madeira, edição “memorável” pela sua força humana e simbólica e que voltou a contar com o apoio do município local. A iniciativa reforçou a projeção internacional da rota, trazendo à Madeira pedestrianistas de países como França, Suécia, Alemanha, Brasil e Nova Zelândia. “Cada participante levou consigo um pouco da nossa história e todos deixaram uma marca de respeito e admiração”, afirmou.
Ao longo do ano, a associação consolidou um conjunto de parcerias consideradas essenciais para o futuro do Caminho Real. Entre elas, destacou o protocolo estabelecido com a Associação de Filme, Televisão e Multimédia da Madeira, que abre novas possibilidades para interpretar o património através da linguagem audiovisual, tornando-o mais compreensível para quem visita e mais valorizado para quem vive na ilha. Gouveia referiu também o reforço da ligação à Confraria Enogastronómica da Madeira.
O dirigente agradeceu ainda o contributo das autarquias e paróquias da ilha que, ao acolherem iniciativas e disponibilizarem espaços, ajudam a integrar elementos comunitários e culturais fundamentais. Segundo afirmou, estas presenças “são testemunhos vivos da ligação profunda entre o caminho e as comunidades que lhe dão sentido” e sem as quais o Caminho Real “perderia uma enorme parte da sua alma”.
Frisou que a preservação deste património não depende apenas de legislação ou de projetos formais, mas sobretudo da relação efetiva das comunidades com o seu território, visível nos pequenos gestos de quem mantém tradições vivas, conserva troços e partilha memórias.
A dimensão educativa foi outro foco do discurso. A participação no programa “Ficas Escolas” levou centenas de alunos a conhecer os Caminhos Reais, contribuindo para formar uma geração mais consciente da sua herança coletiva. Já o Erasmus+ reforçou a dimensão internacional da missão, demonstrando que, “mesmo numa ilha atlântica, o Caminho Real é uma ponte para a Europa e para o mundo”.
Revelou também que a associação avançou com o pedido oficial de reconhecimento de utilidade pública, aguardando o devido deferimento por parte do Governo Regional, e reafirmou a ambição de ver os Caminhos Reais reconhecidos como Itinerário Cultural do Conselho da Europa, distinção atribuída a rotas “com memória partilhada”, interculturalidade, democracia e direitos humanos.
A conferência decorre com dois painéis principais: um dedicado à gestão do território e à pressão turística, procurando equilibrar procura, segurança, sustentabilidade e preservação da paisagem humanizada; e outro centrado na dimensão humana e simbólica do Caminho Real, recordando que este não é apenas “um tapete basáltico antigo”, mas também identidade, pertença e espiritualidade.