A discursar pela primeira vez no Dia da Região, como presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, Rubina Leal enalteceu a importância de celebrar a efeméride “num tempo que exige de todos — instituições, governantes e cidadãos — clareza de visão, credibilidade no discurso e, sobretudo, firmeza na ação”, atendendo ao contexto global particularmente desafiante que se vive.
“A instabilidade internacional, a persistência de conflitos armados, os impactos económicos da inflação, das taxas de juro, da escassez energética e das alterações climáticas estão a moldar um mundo profundamente complexo, onde a incerteza passou a ser, infelizmente, constante”, disse a responsável, lembrando as guerras em curso.
“Contudo, mesmo neste cenário de turbulência e transformação, é imperativo que a Madeira continue a afirmar-se como uma Região com rumo, com identidade, mas também com ambição. A nossa condição insular não nos isola. Pelo contrário, inscreve-nos num espaço geoestratégico relevante, onde convergem responsabilidades, oportunidades e desafios comuns. Assim, importa lembrar: a defesa da nossa coesão interna — social, económica e territorial — é mais do que uma prioridade: é também uma obrigação moral”.
Comentando que “sem estabilidade, não há autonomia que resista”, Rubina Leal disse que a autonomia é “sobretudo, um instrumento de construção ativa do nosso presente e do nosso futuro. E estou certa de que esta visão é partilhada igualmente pela Região Autónoma dos Açores, aqui representada pelo seu mais alto representante, o Presidente da Assembleia Legislativa dos Açores”, Luís Garcia.
Por outro lado, afirmou que “mais do que estatísticas ou indicadores, a verdadeira medida do sucesso político reside na qualidade de vida dos cidadãos que representamos. A classe média da nossa Região — pilar da nossa economia e da nossa estabilidade social — enfrenta hoje desafios exigentes. O acesso à habitação e a conciliação entre a vida pessoal, familiar e profissional, são temas que requerem respostas concretas e eficazes. Neste contexto, o trabalho digno deve ser valorizado”.
Mas o apoio às famílias não se esgota na economia. Exige uma estratégia demográfica sólida e humanista, apontou. “Promover políticas que facilitem a parentalidade, que apoiem quem cuida, que valorizem a infância e que protejam os idosos, é investir no tecido mais profundo da nossa identidade coletiva.
Simultaneamente, a gestão demográfica responsável passa também pela integração regulada da imigração”.
Sobre este aspeto, Rubina Leal advogou que “a Madeira deve saber acolher e valorizar todos aqueles que escolhem a nossa terra para viver, trabalhar e constituir família. Contudo, e porque sabemos que o equilíbrio é essencial, esta integração pressupões organização, regras e condição social”, rematando que “Um povo que foi acolhido também sabe acolher. Neste particular, e neste dia, deixo uma palavra de apreço às comunidades madeirenses, que são o expoente máximo da madeirensidade no mundo e que fazem parte do nosso povo, ainda que não residindo na Região”.
A presidente do parlamento disse que é preciso partilhar o desígnio comum de que “as políticas públicas não devem apenas gerar riqueza, devem, acima de tudo, gerar bem-estar. A par e passo com as metas económicas, importa continuar a alcançar resultados sociais e humanos. Fazer política é trabalhar para aumentar os níveis de felicidade, de confiança e de esperança nas nossas gentes” .
“E se é verdade que nenhuma sociedade será plenamente feliz sem plena justiça social, também é verdade que nenhuma democracia será saudável sem confiança nas suas instituições. A política, nos dias de hoje, está sob o olhar altamente escrutinador, atento e crítico dos cidadãos. Há uma exigência crescente, há ceticismo, há vigilância — e tudo isto é legítimo! Mas que essa exigência também nos inspire, a todos, a ser moderados na apreciação e no julgamento, que nos inspire a ser mais empáticos, mais próximos e mais transparente”.
Aliás, recordou que “foi nesse espírito de responsabilidade que se deu um passo firme na consolidação da confiança institucional, com a criação, consubstanciada no Orçamento Regional, de um gabinete autónomo da Transparência e Prevenção da Corrupção, com um coordenador eleito pela Assembleia Legislativa da Madeira. Esta estrutura independente representa um claro compromisso com a ética pública, com o escrutínio e com a integridade da vida política. Transparência não é uma opção. É um dever de todos nós”.
Deixou o compromisso reforçado com os princípios fundadores da autonomia: a liberdade, a justiça, a solidariedade e o progresso. “A Madeira e o Porto Santo são, hoje, territórios com voz própria, com uma história de superação e com vocação de futuro”.
“Mas a autonomia não se resume ao que já alcançámos”, afirmou. “É sobretudo a nossa capacidade e responsabilidade de continuar a construir um projeto coletivo, inclusivo e ambicioso, colocando sempre os superiores interesses da Madeira acima de quaisquer outros”.
Depois de reafirmar a cooperação institucional com o Governo Regional, Rubina Leal deixou uma mensagem às novas gerações: “deixamos um legado e um desafio: Preservem a autonomia com responsabilidade.