MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

23/05/2023 08:00

No caso da audição ao Ministro João Galamba, por exemplo, investi mais tempo à espera dos momentos "chapa amolgada", mais que certos, mas confesso que o que me mais me chamou a atenção não foi o desastre, mas o pormenor. Um pormenor que ilustra como se encara o poder, pelo menos em Portugal, para lá do próprio Ministro. Um pormenor que além da postura do insigne governante na reconstrução da verdade, como o próprio o descreveu, com a certeza de que a sua reconstruída verdade teria de ser absoluta por defeito, pela natureza da própria e do seu reconstrutor, diz muito da forma como ele se vê e acha que os outros o devem ver. O pormenor a que me refiro, mais revelador da mentalidade da generalidade do país — não escapando a nossa Região, infelizmente — manifestou-se aquando da narração da chamada das forças de segurança ao Ministério sob a sua firme e afoita asa.

Pensar-se-ia que o ilustre Ministro, temendo pela segurança do pessoal do seu gabinete e considerando urgente que se enviasse uma equipa da PSP para proteger as aterrorizadas senhoras (segundo o próprio, evocando para si o másculo papel de protector), assumisse a responsabilidade de ligar para o número de emergência sobejamente conhecido por todos. Em vez disso, o patriarcal Ministro ligou para o Ministro da Administração Interna para que este o pusesse em contacto com o Director daquela força policial, perdendo segundos e minutos urgentes. Fê-lo por desconhecer a existência do 112, ou mesmo por achar que seria mais rápido por aquela via? Não acredito. Até prova em contrário, o que o venerando Ministro quis foi pôr a equipa policial que por lá aparecesse em sentido, sabendo que a chamada vinha de alguém muito importante, não de um qualquer cidadão. Foi uma asserção de autoridade, mais importante do que a emergência sentida. Os agentes viriam com mais respeitinho, tenho a certeza (tenho eu, e teve o Ministro).

Infelizmente, neste país (e esta Região Autónoma não é excepção — antes pelo contrário) raramente quem pode flectir alguma autoridade, ou tem a possibilidade de insinuar uma potencial retribuição valiosa, o deixa de fazer. O professor tem de saber que este é meu filho, o médico tem de saber que que sou fulano ou sicrano, o polícia que pensa em multar-me tem de ouvir um "sabe quem eu sou?" preventivo.

"Todo o poder tende a corromper", afirmou Lord Acton. A perspectiva de perder esse poder, principalmente quando se tem noção de que talvez o seu uso não tenha sido o mais escorreito ou salubre, assusta. O seu continuado abuso para que não se torne evidente o mau uso desse poder não corrige, antes piora. "O poder absoluto corrompe absolutamente", completou Lord Acton.

Se o cidadão se comporta desta forma, normaliza em vez de condenar socialmente, não é de admirar que o governante também o faça, com maior amplitude. É que, antes de se ser governante, é costume ser-se cidadão, perfeitamente inserido e educado pela sociedade que nos elege. Para corrigir o governante, convém corrigir o cidadão. Convém que eu me corrija. Convém que nos corrijamos. Convém que condenemos socialmente este costume.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
18/12/2025 08:00

Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

Ver todos os artigos

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o valor que gastou ou tenciona gastar em prendas este Natal?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas