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Artigo de Opinião

Economista

20/05/2023 08:00

Estas eleições presidenciais ocorrem no centenário da fundação da república secular fundada por Mustafa Kemal Atatürk. Uma simbologia relevante para a campanha eleitoral de ambos candidatos, uma vez que é primeira vez na história da Turquia que ocorre uma segunda volta presidencial.

De um lado o presidente atual Recep Tayyip Erdogan, presidente há vinte anos consecutivos que depois de uma breve abordagem inicial pró-europeia e de aprofundamento da democracia, acabou por conduzir o seu pais numa deriva militarista, nacionalista e autoritária. Erdogan e o seu partido AKP controlam a maior parte da comunicação social do país, o que dificulta a igualdade de tratamento fora e durante campanhas eleitorais.

Do outro lado, os seis principais partidos da oposição juntam-se em torno do funcionário público Kemal Kiliçdaroglu, apelidado de "Gandhi turco", liberal e defensor de direitos humanos. Esta candidatura assume uma postura mais pró-ocidental e promete reverter os constrangimentos de liberdades democráticas no seu país. Consegue a proeza de ir à segunda volta e acusa o regime de Erdogan de fraude eleitoral, pedindo uma vigilância massiva da oposição para o segundo ato eleitoral de 28 de maio. Curiosamente, ao aproximar-se a segunda volta, endurece o tom, assumindo uma postura mais restritiva em relação aos migrantes que chegam à Turquia. Muito provavelmente porque o terceiro candidato da primeira volta, o nacionalista Sinan Ogan que obteve 2,8 milhões de votos, ainda não divulgou que candidato apoiará na segunda volta.

A maioria dos analistas prevê uma vitória facilitada de Erdogan nesta segunda volta, uma vez que é extremamente difícil a oposição conseguir fechar a vantagem de 5% de Erdogan (2,5 milhões de votos). Erdogan faz uso da sua maioria parlamentar para assustar a população com uma eventual instabilidade executiva presidencial caso Kiliçdaroglu ganhasse, explorando as possíveis turbulências governativas no contexto da profunda crise económica vivida pelas famílias turcas. A propósito da crise económica, Erdogan conseguiu a "proeza" de culpar o ocidente pela mesma, fazendo com que o eleitor afastasse o presidente de qualquer culpa no estado atual da economia turca.

Fala-se de alguma frustração turca com o comportamento ziguezagueante da União Europeia ao longo das últimas décadas - culminando com a promessa (mesmo se longínqua) de adesão dada à Ucrânia - que dificulta a confiança turca nas promessas de apoio europeu ao processo democrático.

Em termos de política internacional, o resultado será extremamente relevante para dossiers como o papel da Turquia como mediador diplomático na guerra da Ucrânia; a relação turca com a União Europeia, incluindo o descongelamento das negociações de adesão suspensas em 2018 devido aos incumprimentos democráticos do regime de Erdogan; o veto turco à adesão da Suécia à NATO; o relacionamento da Turquia com os EUA; a gestão dos fluxos migratórios no mediterrâneo oriental e a integração de refugiados sírios. Um grande jogo, com impactos no turismo e na economia em geral, que merece toda a nossa atenção.

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