MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

Psiquiatra

22/03/2023 08:00

Ditadura e democracia. Dois conceitos aparentemente opostos, mas que necessariamente coabitarão no mundo durante muito tempo. Podemos falar de regimes políticos, de países, mas hoje é sobre a crise nas Forças Armadas e na sociedade em geral. Há poucos dias foi notícia a recusa de profissionais da Marinha de assegurarem uma missão. Ficam tantas perguntas por responder e muitas não chegarão à luz do dia, devido ao necessário secretismo das Forças Armadas. Aquilo que ecoa para mim é: (1) tinham razão? (2) podiam fazê-lo?

Ter razão é algo muito importante para a maioria de nós. Sabermos se estamos a agir corretamente, dentro dos nossos princípios e leis. A noção de um mundo justo, em que se fizermos x obtemos y, é um mundo ilusório, que só existe na matemática. Até a física descobre com as partículas subatómicas, que as leis de Newton não abrangem toda a matéria. Não só o mundo não é justo, como por vezes achamos que temos razão, mas podemos não ter. A sensação de injustiça, de derrota, coloca sofrimento psicológico e alimenta muitas doenças mentais.

O problema é que socialmente evoluímos, mas as forças militares e para-militares não o podem fazer. Diz-se por vezes que "a democracia é um luxo" e eu concordo. Para haver democracia, tem de haver segurança. Mas pode haver democracia nas forças de segurança? Talvez não. Ao longo das últimas décadas temos visto a disciplina desaparecer da sociedade. Isso tem trazido imensos problemas aos professores (na minha opinião o grande responsável pela sua exaustão). A ausência de disciplina faz com que na verdade não possa existir democracia nas forças de segurança. Se a disciplina existir dentro de nós, sabemos as nossas responsabilidades e executamos. Mas temos a liberdade de pensar, criticar e mesmo decidir se fazemos ou não determinada ordem. Mas sem disciplina, não podemos sequer almejar a liberdade. Pois se a tivermos, deixamos tão rapidamente de cumprir os nossos deveres, na rapidez com que tivermos prazer.

Gosto sempre de lembrar a experiência com ratinhos de há várias décadas. Se os ratinhos tivessem acesso a cocaína, consumiam até morrerem. Não comiam, não tinham relações sociais ou sexuais, apenas consumiam. Assim também os humanos só se focam no prazer e desaparece tudo, se não tiverem disciplina. Porquê arrumar a casa? Trabalhar? Pagar impostos? Se podemos ter prazer sem fazer nada?

Assim, para alguns terem a possibilidade de estragarem a sua vida e outros de construírem mundos infindáveis, alguns não podem ter o luxo da democracia. E sim, temos de aceitar a dura realidade que as forças militares são uma parte separada da sociedade civil, com regras próprias e, por vezes, difíceis de compreender. Desta forma, nem toda a gente tem o que é necessário para trabalhar nestas condições e de aceitar que não tem liberdade. Na verdade, pouca liberdade temos na vida, mas a que temos, devemos saborear e aproveitar da melhor forma. Felizmente vivemos num país, que apesar dos seus defeitos não controla a nossa saída do país, que permite muita liberdade e que apesar da sua extensa burocracia, permite que nos autodeterminemos. Vamos aproveitar a nossa liberdade e construir uma melhor democracia para todos, para que um dia no futuro, as forças de segurança possam usufruir dessa mesma liberdade!

OPINIÃO EM DESTAQUE

88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

Emissão Online

Em direto

Ouvir Agora
INQUÉRITO / SONDAGEM

Qual o seu grau de satisfação com a liberdade que o 25 de Abril trouxe para os madeirenses?

Enviar Resultados
RJM PODCASTS

Mais Lidas

Últimas