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Artigo de Opinião

Farmacêutico Especialista

22/07/2022 08:00

Num exercício simples, todos já nos apercebemos que um cheiro, um local, uma estação, uma música, nos transportam para um passado, aquele vivido seja ele um momento triste, alegre, de felicidade, de horror, ou um momento de vida corrente normal, e que isso provoca em nós o sentimento tido aquando da concretização da memória. Podemos depreender que isso diz-nos que a vida é um continuum espácio-temporal e que nós somos indissociáveis do que fomos, não só como resultante desse processo, mas somos no presente todo esse passado em busca de futuro enquanto taça que se foi enchendo ao longo do tempo.

É certo que correr atrás do passado é um exercício vazio, o que é preciso é estar em paz com o mesmo, aconteceu tudo como era suposto que acontecesse, e nenhuma das outras possibilidades que hoje parecem plausíveis, eram possíveis.

Há uma frase popular que comporta toda a essência enigmática do peso do passado: "Quem me dera ter vinte anos e saber o que sei hoje", se escrutinarmos finamente, quem a profere não consegue verbalizar a acção que impeliria para um outro rumo, deixa-se deambular mentalmente no enigma, mas então, o que faríamos que escolhas, que opções, que caminhos? O querer voltar ao passado, a um momento feliz ou regressar para alterar escolhas é demasiado comum, mas cheio de cousa nenhuma, julgo que obscuramente reside na maioria a certeza e vontade de repetir tudo de novo, isso é de certa forma, estar em paz com o passado, compreender que a aceitação e aprendizagem contínua com aplicação desse conhecimento angariado é a única forma de encarar o futuro.

É preciso estar em paz com o passado para viver o presente e construir futuro, o provérbio japonês assim o alude - para você beber vinho numa taça, precisa antes de jogar o chá fora.

Aí começa a Viver a Vida, pois passar pela vida sem a viver é desperdício existencial, "e o que temo da morte, é que ela me dirá que a vida passou sem mim. ACamus"

Mas hoje em dia, parece que se vive para fora, a vida é levada para agradar aos outros em detrimento da sua própria vontade ou negando-a. Esta vida vivida para agradar aos outros ou se quisermos para demonstrar aos outros algo, andar numa provação continua de si mesmo, é perigosa pois inibe a nossa própria vida, a nossa vontade. A pressão de viver para fora é avassaladora, são as redes sociais que vieram dar palco, a esse desejo reprimido, ou criá-lo, é a necessidade de demonstrar sucesso, a necessidade de brilhar, de reconhecimento, é a viagem, é o ginásio, é o cão, é a casa, é o carro, é a promoção, é no fundo uma vida é trilhada por interesses externos, ora é o desejo que controla e não a vontade, esta é mais simples, vem de dentro vem com tudo o que importa, Paz, Amor, Esperança. O desejo é flexível como a vela de um barco, dirige-se no rumo do vento, segue um azimute que não foi decidido por ele.

Não quero nem diabolizar, nem minorar a intervenção positiva da sociedade no nosso crescimento e evolução enquanto animais, que o somos (desculpem a insistência, mas reside na consciência da nossa insignificância significante a base para uma vida de aceitação e construção continua e aperfeiçoamento evolutivo), mas como diz R. Shinyashiki - "A nossa maior missão nessa viagem pelo planeta é ser felizes e criar oportunidades para que os outros também o sejam".

Viver a vida não é ter avidez pela mesma, não é querer fazer tudo ao mesmo tempo, estar em todo o lado, o correr para o nada, é ter calma, saborear o que temos, ter vontade de mais, mas ficar-se pelo possível, senão fará apenas parte da grande corrida que é a vida, e não a conseguirá experienciar em todas as ricas dimensões que apresenta.

A Felicidade é a vontade de ser Feliz, e o sucesso é encarar a Vida enquanto missão de dimensão superior, sentir a Vida, experiencia-la em todas as suas dimensões seguindo o caminho de Bem. Essa Missão que nos foi confiada pela Deidade, não é um sacrifício, mas sim a de sermos Felizes contribuindo para a felicidade dos outros.

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