Em 2013, aceitei o desafio de coordenar o Centro Europe Direct na RAM, uma estrutura satélite da Comissão Europeia que, sob a coordenação da sua Representação em Portugal, tinha como missão divulgar as políticas e programas europeus junto dos cidadãos, esclarecendo dúvidas e promovendo todo o tipo de iniciativas que, de alguma forma, pudessem contribuir para aproximar os cidadãos das instituições europeias e do projeto europeu, em sentido lato. Ultrapassadas as dificuldades iniciais relativas ao funcionamento geral da rede – éramos na altura cerca de 500 EDIC´s (Europe Direct Information Centres), cedo me apercebi que só havia uma forma de cumprir a missão com eficiência: vestindo a camisola da equipa UE! E foi o que fiz, desde o primeiro momento, não apenas porque era a atitude profissional mais correta, mas porque, acima de tudo, acreditava piamente no projeto europeu e nas suas virtudes.
Claro que “vestir a camisola” tem muito que se lhe diga. Até porque normalmente estas camisolas são de tamanho único e nem sempre assentam da melhor forma a todos(as). Mas vestia-a sempre, sem hesitação e com orgulho!
Passada mais de uma década, e agora sem responsabilidade executiva na rede, olho hoje para a Europa de uma forma... diferente. O orgulho permanece, tal como a convicção plena que este ainda é o melhor projeto para a afirmação da Europa no mundo e para a melhoria progressiva da qualidade de vida dos europeus, pese embora a persistência de diferenças significativas entre os 27.
Olhando para trás, recordo com entusiasmo a iniciativa “Uma Nova Narrativa para a Europa”, lançada em 2013, pelo então Presidente da Comissão Europeia (Durão Barroso), tendo como objetivo a promoção de debates nacionais que conduzissem ao diálogo e à participação massiva dos cidadãos, em torno do projeto europeu, entendido como um espaço de desenvolvimento para todos (o saudoso Francisco possivelmente acrescentaria “todos, todos, todos”). Recupero esta iniciativa por considerar que a UE já teve melhores dias, com uma capacidade de mobilização que hoje, infelizmente, já não aparenta ter. No ano que agora termina, a Comissão Europeia, liderada por Von der Lyen, foi sujeita a três moções de censura no PE (não aprovadas). Este facto por si só pode nem ser relevante, mas já não podemos dizer o mesmo de outros acontecimentos, tal como o recente recuo na proibição da venda de veículos com motores de combustão novos a partir de 2035. É certo que a conjuntura que hoje vivemos é outra e que a indústria automóvel europeia está sujeita a uma enorme pressão (muito por culpa própria, desprezando os sinais óbvios vindos do oriente), mas não podemos ignorar que alguém não fez bem o seu trabalho de casa. Excesso de otimismo, dirão uns, teimosia, dirão outros, o certo é que a Comissão deu um passo atrás no caminho da eletrificação automóvel, com reflexos diretos naquela que, noutros tempos (2019, para ser mais preciso) representou a menina dos olhos da Comissão – o Green Deal. É verdade que as metas de longo prazo permanecem inalteradas, mas estes recuos têm consequências pouco abonatórias, apesar dos esforços da Comissão em justificar esta decisão controversa.
A defesa é agora a nova coqueluche de Bruxelas. É um mal necessário, ou se quisermos ver de outra forma, um investimento tardio para tentar repor o que ignoramos durante décadas a fio, na certeza que o mundo caminhava para um espaço de convivência pacífica. Fomos ingénuos? Em 2013, teria dito que não! Hoje, digo sem hesitação que sim. Fomos e continuamos a ser em alguns domínios.
Dito isto, e para que não haja espaço para dúvidas, continuo a vestir a camisola azul com as suas doze vistosas estrelas douradas, ainda que, agora, a sinta um pouco mais justa e, por vezes, até algo desconfortável. Mas as convicções mantêm-se.
A todos(as) os(as) leitores destas modestas crónicas mensais sobre a nossa Europa, os meus votos de um Ano Novo cheio de acontecimentos bons que vos façam sorrir. Hoje e sempre.
Marco Teles escreveà segunda-feira, de 4 em 4 semanas.