Na era da conectividade global, as viagens transcendem o mero lazer – são uma ponte para diversas culturas e experiências memoráveis. No entanto, esta ponte não é igualmente percorrível para todos. Aproximadamente 1,3 mil milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam desafios no acesso a viagens devido a deficiências. A Região Autónoma da Madeira (RAM) não pode ser alheia a esta realidade. A RAM pode continuar no status quo ou ser pioneira numa abordagem transformadora rumo ao turismo acessível.

Viajar já não é um luxo, mas sim um direito que deve ser acessível a todos. A Organização Mundial de Saúde destaca uma parcela significativa da população global com deficiência, sublinhando um mercado repleto de potencial para regiões como a Madeira. O turismo acessível não é apenas uma questão de conformidade, mas uma oportunidade estratégica. Expande a base de clientes, incluindo idosos, famílias com crianças pequenas e pessoas com deficiência temporária, aumentando as receitas e promovendo o crescimento sustentável.

A Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (OMT) tem defendido o turismo acessível. As suas iniciativas, incluindo a Conferência Internacional sobre Turismo Acessível (em parceria com a Sereníssima República de San Marino) e colaborações com organizações como a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) e a Rede Europeia para o Turismo Acessível (ENAT), fornecem um potencial roteiro que a Madeira pode seguir. Estes diálogos globais enfatizam a liderança na acessibilidade, a aplicação do design universal no turismo e a inovação em experiências de viagens acessíveis.

Um plano de ação da RAM para o turismo acessível deverá estar ancorado numa abordagem abrangente que inclui a melhoria de políticas e infra-estruturas, orientada pelo Manual de Turismo Acessível da OMT. No centro deste plano está a adaptação dos transportes, dos espaços públicos e das instalações turísticas da Região para responder às necessidades das pessoas com deficiência. Esta abordagem transformadora garante que todos os aspectos da experiência turística, desde a navegação pelos locais até ao acesso a várias atracções turísticas, sejam concebidos de forma inclusiva. A tónica deverá ser colocada na criação de um ambiente em que a acessibilidade é desenhada no próprio tecido da infraestrutura turística, garantindo que estas instalações não só cumprem as normas de acessibilidade, como também são acolhedoras para todos.

Para além do desenvolvimento de infra-estruturas, o plano de ação deverá apresentar programas sólidos de formação e sensibilização para os intervenientes no sector do turismo, salientando a importância de compreender e satisfazer as necessidades específicas dos viajantes com deficiência. Esta formação visa cultivar uma força de trabalho conhecedora e empática, capaz de prestar um serviço excepcional a todos os turistas, independentemente das suas capacidades físicas.

O plano deverá também prever uma colaboração estratégica com fornecedores de tecnologia e serviços para integrar soluções inovadoras, melhorando a experiência de viagem dos turistas com deficiência. Para além disso, uma estratégia de marketing e comunicação focada é essencial neste plano, com o objetivo de promover eficazmente a Madeira como um destino acessível.

Para a Madeira, abraçar o turismo acessível não é apenas um imperativo ético, mas uma oportunidade estratégica para redefinir a sua indústria turística. Ao seguir as orientações definidas pelas organizações internacionais e aprender com as melhores práticas globais, a Madeira pode desbloquear um mundo de viagens que é verdadeiramente para todos. O turismo acessível é mais do que apenas uma tendência da indústria; é um compromisso com a inclusão, é uma prova do fascínio universal das viagens.