O número três representa a unidade divina. A Santíssima Trindade para os cristãos (Pai, Filho e Espírito Santo) é um dos principais exemplos que mostram o carácter sagrado deste número. A obra-prima de Dante, a “Divina Comédia” é estruturada em três partes principais: Inferno, Purgatório e Paraíso. Também na literatura infantil, o número três traz boas recordações, quem não se lembra das histórias dos “Três Porquinhos”, dos “Três Ursos” ou dos “Três Mosqueteiros”. E já que estamos na secção infantojuvenil, quem é que ainda não leu a última travessura do André, “Ventura e os três Salazares”?
Pois é, já chegou às bancas e teve uma ampla cobertura mediática, provocando ranger de dentes e ataques de nervos mais ou menos severos. Enfim, o costume, neste país deprimido e sem qualquer sentido de humor. Todos caíram na armadilha e foram atrás da conversa do homem, elevando a triste ideia a blasfémia nacional. Estava feito o dia, ou por outra, estava feita a semana. Parece que ainda ninguém percebeu qual é a estratégia, qual é o modus operandi da prima-dona do Chega e da sua orquestra de saltimbancos (atenção, não confundir com assaltantes de bancos). Não compensa a irritação e o stress, é só mais uma história, mais uma fábula saída da prodigiosa imaginação do André e da sua editora. Toda a cólera, toda a verborreia dos comentadores e sumidades televisivas, é como se tentassem apagar um incêndio com gasolina, ainda não “atermaram”?
Como esta história absolutamente delirante, existem outras, quase todas bestsellers e com edições esgotadas. Cada novo fascículo, tem um fim específico e concreto, nada é deixado ao acaso. Uma mistura malcheirosa de demagogia, com uns punhados de desinformação, acrescida de ressentimento às tirinhas, mais umas colheradas de vitimização e de uma lata descomunal, e pronto, está feito o engodo. E apetite não falta no oceano dos media, com a vertigem das audiências, quanto mais indigno e bizarro melhor. Não aparecem só as televisões, são também os jornais e as rádios, todos se lambuzam nesta mixórdia pegajosa. Para o efeito, Ventura nem precisa de minhocas, na voragem noticiosa, esta gente morde o anzol à primeira oportunidade, e não larga... este pescador nem precisa de mentir, pelo menos, quanto à quantidade de peixe que leva para casa.
Revisitando a secção de literatura infantil da editora “Chega Devagar”, encontramos inúmeras aventuras do seu famoso herói. Poderíamos descrevê-lo como uma mistura de um Tintim, com a Anita, mas com alguns meneios de Charlie Brown, mas só para as aparências, pois ele é tudo menos inseguro e azarado. Esta simpática personagem, com uma fatiota aprumada de escoteiro explorador, não tem animal de estimação, tem antes como companhia um gang de “zombies” que o veneram, mas que não falam, fazem antes uns grunhidos e batem palmas, batem muitas palmas, vai-se lá saber porquê. O Ventura e os seus amigos já correram o mundo. O primeiro sucesso foi o infelizmente esgotado, “Ventura passeia pelo PSD”, de seguida e com mais sucesso ainda “Ventura bate bolas na CMTV”. O terceiro volume, também interessante, mas o menos politicamente correcto de todos, “Ventura e os Ciganos”, que não correu bem, saindo logo depois uma segunda edição, com o título, “Ventura e os cidadãos avessos ao cumprimento da lei”. Ainda antes dos grandes sucessos, saíram dois títulos de contos político-eróticos, “Ventura na cama com António Costa” e um outro, mais explicito, “Ventura e o maroto do Professor Santos Silva”, lançando a personagem para o estrelato. De seguida e já com muitas edições impressas saiu o fantástico “Ventura chegou, viu e venceu”, é a partir desta publicação que aparecem pela primeira vez os fofinhos “zombies”. Tivemos depois os 32 tomos do entediante, “Ventura contra a corrupção”, os 19 tomos de, “Ventura contra o regime” e os 15 tomos do desconcertante, “Ventura à caça da bandidagem”. Na última série tivemos viagens e encontros mais intimistas como o, “Ventura visita o Bangladesh” e o livro de autoajuda, “Ventura, populismo para totós”. Mais recentemente saiu o ainda muito falado, “Ventura e os três Salazares”, estando já na calha o, “Ventura visita o avô Oliveira”. Nesta última aventura que sairá em breve, o nosso herói vai a Santa Comba Dão visitar o avô. No terno encontro, o astuto rapaz ensina ao ancião um lema inovador que o vai levar longe, os chamados três “F”: futebol, forró(bodó) e falácia... uma história linda e comovente.