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Artigo de Opinião

28/03/2021 08:00

Pois é, cá estou novamente a cumprir aquilo que, para mim, é um imperativo de cidadania: denunciar e expor a extrema-direita 2.0 que se tem vindo a instalar no nosso país e na nossa região, depois de já ter deixado a sua marca peçonhenta noutras partes do globo, renegando os fundamentos da democracia e minando os seus pilares. A sua penetração na R.A.M. ainda é pouco mais que residual, mas há indícios e suspeitas de que poderá estar a ser "alimentada" por um outro partido, o qual terá mesmo orientado parcialmente a votação dos seus militantes para André Ventura, nas recentes eleições presidenciais. Por coincidência (ou talvez não), é no concelho de Santa Cruz que o Chega se mostra mais afoito, o que parece corroborar a teoria do populismo ignorante manipulado por um partido do sistema. Lembra a criança que brinca com o fogo, convencida que o sabe controlar, mas acaba por incendiar a casa.

Prossigamos, então, com o "Manual de Instruções para combater a Extrema-Direita", de Steven Forti, que traduzi e do qual irei transcrever diversas passagens, adaptando outras:

• Entender as razões para o avanço do monstro.

Económicas: o aumento das desigualdades, o enfraquecimento do Estado-providência, a precariedade do trabalho e o crescente número de cidadãos que se encontram à margem da sociedade;

"Culturais": a centralidade de questões como o aborto, os direitos das minorias, da imigração, do casamento homossexual, do feminismo, entre outras, que polarizam a nossa sociedade;

Socio-políticas: a democracia liberal representativa vive uma crise profunda, as nossas sociedades estão a desgastar-se, os partidos políticos não cumprem a função de correia de transmissão entre pessoas, territórios e instituições, os sindicatos têm enormes dificuldades de adaptação e a desconfiança do eleitorado continua a aumentar;

Ideológicas: vive-se um período de crise das ideologias que marcaram a era contemporânea. Não que a esquerda e a direita já não existam, mas desenvolveu-se uma densa confusão que gera fenómenos mórbidos e estranhos medleys ideológicos. É uma crise generalizada de valores e referências. A tudo isso, acresce que parte da população tem medo das rápidas mudanças que estamos vivenciando e anseia por proteção e segurança. À sua maneira, a extrema-direita sabe prometer soluções para estes problemas.

•Desenvolver uma resposta poliédrica para combater o monstro.

Não há um motivo único que explique o avanço dos populistas: os seus sucessos, não apenas eleitorais, devem-se a um conjunto de questões que não são exclusivas, mas justapostas. Para derrotar, ou pelo menos enfraquecer o monstro, há que resolver esses problemas. Não será suficiente aumentar os salários ou financiar mais saúde e educação pública. Não será suficiente tentar religar os fios quebrados para reconstruir as nossas sociedades. Não será suficiente avançar nos direitos civis ou dar novamente centralidade à escola e à cultura. É claro que essas são questões cruciais, mas não são suficientes por si mesmas. É hora de enfrentar a complexidade do mundo gasoso em que vivemos. É hora de elaborar uma resposta poliédrica. Não existem varinhas mágicas nem soluções milagrosas, há que agir em diferentes níveis. Não basta actuar numa área, seja ela institucional, política, social, económica ou cultural, é necessária uma estratégia multinível que trate de áreas diferentes.

O próximo e último artigo desta série irá debruçar-se sobre propostas de resposta: o que podem fazer os partidos e instituições democráticas, qual deve ser o papel da comunicação social, como pode construir-se uma resposta da base e qual deve ser a acção da esquerda democrática.

Porque ainda vamos a tempo de quebrar as cadeias de transmissão deste vírus…

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