As filas nos supermercados, o andar apressado de loja em loja nos centros comerciais, as últimas prendas no comércio tradicional, fazem-nos pensar na correria louca que se transformaram os últimos dias do advento do Natal.
Alguns ainda se questionam sobre a utilidade da corrida contra o tempo. Tudo por causa de um dia, umas horas de mesa bemposta, com tempo de paz e qualidade para repartir com família e amigos.
E, de repente, fica a ideia de que este corre-corre é apenas nesta altura do ano.
Não é!
Esta azáfama da Festa será mais funda do que o habitual, mas era bom que conseguíssemos ver, nestes dias de aparente paz e relaxamento, que a corrida do Natal já se vive noutros dias de outras semanas em diferentes meses de cada ano.
A sociedade dita moderna vive agora assim, a correr de um lado para o outro como se não houvesse amanhã. Este ritmo acelerado já é tão comum que foi normalizado.
Por estes dias de Festa estamos, outra vez, numa fase de viragem. Depois da Festa, a festa vem. E voltam os foguetes, o champanhe, as passas. E os compromissos para o próximo ano feito de hábitos saudáveis, metas pessoais e profissionais e mais uns quantos desejos enquanto dura o fogo nos céus do Funchal.
Depois, entra janeiro. Vem devagar e prolonga a festa quase até à primeira metade do mês.
A seguir vem fevereiro, o Carnaval, a Páscoa e os primeiros dias de sol e as férias e num ápice chegamos a outubro. Começa aí nova contagem para o Natal.
Volta tudo ao início. A rotina do calendário é implacável e não pode parar. Faz parte do mecanismo em que assenta a vida coletiva e pouco ou nada se pode fazer para alterar esse jogo.
Resta-nos rever a lista de desejos para o Ano Novo.
Para começar, confirmamos que se cumpriu um ano intenso. Que houve muitas eleições – e ainda faltam as presidenciais. Logo, acabaram-se as desculpas políticas para adiar decisões e é o tempo de fazer uso da tão reclamada estabilidade política.
É também preciso olhar a estratificação social e perceber que ‘algo de errado não bate certo’. Que há muitos pobres sem rumo e toda uma classe média esmagada entre impostos, preços altos e baixos salários.
Que faltam políticas sérias e concretas para os mais velhos. Não basta fazer passeios e muito menos posar de ar feliz ao lado de idosos de olhar triste e perdido.
Que é preciso perceber como reconquistar os jovens que se formam e partem por falta de incentivos e de carreiras justas.
Falta olhar para o problema da habitação e perceber que não basta construir agora à força toda e voltar a esquecer o assunto até às próximas eleições. Os preços proibitivos para compras ou renda e a concorrência do Alojamento Local fazem-nos recuar ao tempo do acrescento na casa dos pais para acolher mais uma família que deveria ser independente, mas não ganha para isso.
Falta garantir a saúde pública sem que seja quase obrigatório recorrer ao privado para evitar listas de espera ou falta de equipamentos.
Entre tantas e tantas outras coisas, falta perceber melhor como manter a sã convivência entre turistas e residentes.
Falta valorizar o setor primário, fundamental no desenvolvimento regional.
E falta muito mais. Mas se 2026 responder a parte destas faltas, teremos um ano em grande.
Tenha uma Festa Feliz e um excelente Ano Novo!