MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

2/01/2021 08:00

O espectáculo pirotécnico que é o nosso melhor cartaz turístico voltou a ser deslumbrante (como o é todos os anos, para os milhares de forasteiros que visitam a Madeira pela primeira vez). Entre os nativos, como é (também) habitual, as opiniões dividiram-se quanto à qualidade e quantidade do fogo-de-artifício. Recuperamos com saudade a memória dos "Fins do Ano" de antigamente, que eram sempre perfeitos e maravilhosos, fazendo-nos acreditar que este ano foi "fraquinho", teve umas clareiras aqui, umas falhas de sincronização acolá, fumo excessivo por não haver vento, sequência final modesta, enfim… tornou-se tradição discutirmos o nosso Fogo e já não passamos sem isso. Pior que o Fogo do ano X, só mesmo o do ano anterior e o do ano seguinte… Por algumas horas, não deixa de ser gratificante ver que todos os madeirenses frequentadores das redes sociais são especialistas no mesmo tema, pirotecnia, em vez de virologia, epidemiologia ou saúde pública.

Tenho dificuldade em descrever as sensações que me invadem durante aqueles breves minutos em que o fogo crepita nos céus, mas duvido que o impacto visual e sonoro tenha especial influência no resultado. Cada estoirar de balona pode fazer surgir um laivo de alegria ou um assomo de tristeza, conforme nos concentramos no amor por quem está ao nosso lado ou na saudade de quem está longe ou já nos deixou. Há sempre felicidade e gratidão, de braço dado com tristeza e dor. Depois, surge aquele momento redentor em que acertamos as contas com o passado recente e olhamos com serenidade e confiança para o futuro próximo. Tudo isto é facilmente traduzido num abraço, num beijo, num sorriso ou numa lágrima, mas é quase impossível de verter em palavras. É nisto que o "Fim do Ano" é muito nosso: na forma como o sentimos, muito para além das luzinhas e da pirotecnia, como um momento de espiritualidade, de fé e de esperança.

Que venham muitos e bons!

Da pandemia:

Passaram-se dois anos desde que foi identificado este maldito vírus, que nos virou a rotina do avesso e nos deixou a vida em lista de espera. Quase de um dia para o outro, soubemos que andava por aí um bicho mau e invisível, que matava muito mais que os outros bichos maus e invisíveis que por aí já andavam, como a gripe, a inveja e a calúnia.

Quase de um dia para o outro, passámos pelas fases do papel higiénico, da máscara, da desinfeção, do confinamento, do recolher obrigatório, do isolamento, da vacina, do certificado, do reforço e da testagem. Aprendemos todos a dizer "comorbilidades associadas", "isolamento profilático", "testou positivo para a SARS-CoV-2", "cenário pandémico", "esquema vacinal completo" e "novo normal". Deixámos rapidamente de acreditar que "vamos todos sair disto melhores" e que "vai ficar tudo bem". Soubemos que éramos cidadãos exemplares e cumpridores, para, quase de um dia para o outro, nos descobrirmos uns irresponsáveis propagadores de doenças.

Penámos, sofremos, perdemos… lutámos, resistimos, prosseguimos…

Ficámos em pânico com uma dúzia de casos positivos por dia (fechem o aeroporto, fechem as escolas); assobiámos para o lado com uma centena de casos positivos por dia (então, encontramo-nos à meia-noite na Placa Central, certo?).

Agora, quase de um dia para o outro, começam a dizer-nos que 1.000 casos por dia até pode ser bom; que já há países a querer que os seus cidadãos se infectem massivamente; que a tal Ómicron é fixe e nos vai salvar a todos; que o bicho mau e invisível vai descer de divisão; que os profetas da desgraça epidemiológica já proclamam, afinal, o fim da pandemia…?

Será verdade? Será pirotecnia?

Ou será que estamos quase a ouvir dizer: "Senhores passageiros, pedimos desculpa por esta breve interrupção de dois anos, a vossa vida será retomada dentro de momentos."?

Esperemos que sim!

Feliz 2022!

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