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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

27/05/2021 08:01

É certo que existem muitas profissões que, pela sua natureza, não podem ser exercidas em teletrabalho e a cujos profissionais a quem temos de agradecer o terem estado sempre lá, incluindo durante o confinamento. Profissionais esses que frequentemente têm passado despercebidos, como é o caso dos trabalhadores dos supermercados, dos serviços de salubridade, de segurança, entre outros. Mas há outras profissões cujas características fazem com que o teletrabalho seja uma modalidade viável. Nessas profissões, o teletrabalho surgiu inicialmente como obrigação sanitária e solução de recurso, mas configura-se agora como algo que poderá fazer parte da normalidade.

Esta questão é especialmente relevante se atendermos ao surgimento de vários indicadores que são, por exemplo, identificados no recente Contributo da Ordem dos Psicólogos Portugueses, intitulado A (in)sustentatibilidade do teletrabalho. Entre estes indicadores encontram-se a satisfação de muitas pessoas com esta modalidade de trabalho, os aumentos de produtividade que se verificaram e a existência de equilíbrios mais harmoniosos na gestão do quotidiano e da vida pessoal e familiar, devido, por exemplo, ao evitamento de deslocações desnecessárias. Em suma, a experiência existiu, muitas pessoas fizeram um balanço positivo e houve ganhos em várias dimensões. O teletrabalho ajudou inclusive a desmistificar a ideia que um trabalhador é produtivo somente se estiver “acorrentado” à sua secretária no local de trabalho.

Mas o teletrabalho - e a forma como é encarado - pode também comportar riscos e sobretudo não é uma panaceia. Na verdade, muitas pessoas sentiram-se também mais isoladas, não tinham as condições necessárias em casa para trabalhar (que vão desde o próprio local para trabalhar até à existência de distratores e até fontes de stress - por exemplo sobreposição de papeis) e, um aspecto mais preocupante, sentiram que existia frequentemente uma expetativa de disponibilidade permanente para atender a todas as solicitações a qualquer hora. Num plano mais amplo, há também elementos que merecem ser considerados, por exemplo, ao nível da capacidade das lideranças gerirem pessoas e de algumas ameaças à cultura e clima organizacional que decorre de todos os trabalhadores estarem em casa em frente a um ecrã, sem interação presencial no local de trabalho.

Em suma, se o teletrabalho se configurou como uma ferramenta muito útil e geradora de satisfação e produtividade, há que considerar potenciais riscos e reduzir a probabilidade de se verificarem.

A pandemia veio salientar a questão do teletrabalho e a experiência mostra-nos que se trata de uma modalidade de trabalho com muito potencial e que deve ser utilizada com parcimónia. A intensidade ótima e a combinação ideal entre trabalho presencial e teletrabalho deve ser devidamente avaliada e adequada a cada caso, não só em número de dias, como também no tipo de tarefas que são realizadas em cada um deles.

No que se refere ao teletrabalho, não podemos certamente ter cenário de tudo ou nada. E a este propósito, são essenciais a questão da liderança e da organização do trabalho, bem como o direito a desligar, evitando-se horários excessivos e disponibilidades permanentes. E, sem dúvida, num quadro de boas práticas na gestão de pessoas e de desenvolvimento da competitividade de cada organização, uma vez mais se evidencia a importância de se avaliarem e intervir sobre os riscos psicossociais, favorecendo o bem estar e a produtividade, e tornando a saúde psicológica um dos objetivos de cada organização.

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