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Artigo de Opinião

Psicóloga

17/07/2022 08:00

Oprimidos pelas regras impostas de uma sociedade construída de caixas e caixinhas, coabitam os medos, o sistema que não funciona, uma insatisfação que nos frustra e uma ingenuidade de que vai haver tempo para tudo.

Iludimos e deixamo-nos iludir. Num mundo gigantesco de tecnologia avançada capaz de gerar espaço onde ele não existe, há um propósito maior desses sonhos que sonhamos: deixar um legado, assim como a árvore da vida que carrega em si as gerações.

Nas raízes permanecem as linhagens que nos unem ao passado e nos marcam o presente com memórias e historias que se interligam. Contudo, num rodopio de trabalho, tomadas de decisão e sucesso profissional, fica "esquecido" o legado que um dia projetamos.

Pensamos fora da caixa, complexificamos as emoções, depositamos no outro o nosso egoísmo e deixamos de lado a lente interna que nos conduz a uma dança solitária.

Agora é tarde demais.

Do legado sonhado e desejado permanece o vazio do filho que não tive.

Florescem nos pensamentos o fascínio da imagem que não vi, do processo que desconheço, do choro que não ouço, do sonho idealizado e não concretizado.

Na viagem introspetiva da mente, abre-se o portal do desconhecido e sonha-se com o filho que não tivemos. Agora é tarde demais.

Num mundo de excessos, a consciencialização do porto seguro para as crianças não chega a todos. O "João" é uma dessas crianças, brinca na rua, não vai à escola, come o que há em casa ou pede aos vizinhos e…enquanto isso, a mãe dorme o dia todo pela ressaca de umas doses de heroína e o pai, esse, é apenas um desconhecido. Um desconhecido dentro de um coletivo que dorme e um ego que domina sem saber que direção tomar. Quantas crianças são escolhidas e devolvidas por quem não sabia cuidar e os perdeu em sociedades desenvolvidas sem os valores das gerações e dos legados.

Agora é tarde demais para o choro que não se ouve e um filho que não se teve.

Meio século de histórias e escolhas que nos atingem num futuro ancorado a um mundo que se especializou de forma tão veloz, que o aprofundar do conhecimento passou a ser discutido até no silencio da mente. E lá, do lado positivo, ofereces ferramentas cruciais ao Homem para a sua saúde mental e não adoecer nesta sociedade de adultos reprimidos e crianças autoritárias.

Não saberei o seu arquétipo, não conhecerei os seus sonhos e nem saberei como será o seu rosto. Não seria um "João" sem instrução ou legado, habitaria em constante movimento como o bater do coração pela vida.

O filho que não tive, é o guia centrado numa imagem do que será um futuro sem nome e de um legado deixado apenas nas raízes da árvore da vida.

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