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Artigo de Opinião

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18/10/2025 08:00

Os resultados das eleições autárquicas de 2025 na Região Autónoma da Madeira oferecem um retrato politicamente denso.

Por um lado, reafirma-se a maioria do PSD-M. Torna-se igualmente visível que essa maioria já não exerce domínio absoluto sobre alguns dos territórios que estiveram sob a sua influência ininterrupta até 2013 — casos paradigmáticos de Porto Moniz, Santana, Ponta do Sol e Santa Cruz — nem sobre o seu bastião histórico mais sólido a norte, São Vicente, que perde categoricamente neste ato eleitoral.

Por outro lado, o JPP destaca-se, no Funchal, como partido emergente, enquanto o Chega regista o maior crescimento global a nível regional.

O que é que isto nos diz? No essencial, sugere uma transformação estrutural gradual do sistema político madeirense. Não se trata de uma rutura súbita, mas da emergência de fissuras num edifício outrora sólido e a aceleração de um declínio estrutural noutro.

São Vicente surge como um caso paradigmático. A imposição de um candidato pelas estruturas locais, sem consenso alargado, abriu espaço para divisões que o candidato do partido Chega soube capitalizar. A fragmentação interna exige atenção e humildade – os testemunhos são públicos; o que falta agora é a humildade para os ouvir.

De facto, o PSD-M reforçou ligeiramente a sua votação global e assegurou uma maioria suficiente para liderar a AMRAM — resultado que decorre da recuperação da Câmara da Ponta do Sol.

Contudo, o padrão territorial revela uma realidade que merece reflexão: o mapa regional mostra-nos uma implantação social-democrata menos densa e uma implantação socialista menos relevante. O populismo cresce e a direita radical ganha espaço.

Em paralelo, o PS-M mantém uma trajetória de acelerada erosão, perdendo uma das três Câmaras socialistas e perdendo, um pouco por toda a ilha, os seus representantes.

A erosão rápida do eleitorado socialista caminha a passos largos para uma dimensão estrutural. A derrota na Ponta do Sol foi politicamente expressiva, não apenas pela dimensão da derrota, mas também pela incapacidade dos incumbentes para preservar o seu enclave político. No Funchal, a perda da última junta socialista agravou este quadro de desgaste da esquerda. O PS-M passou a ser a quarta força política nos concelhos com maior expressão eleitoral – Santa Cruz, Câmara de Lobos e Funchal.

Mais do que episódios isolados, estes resultados traduzem um enfraquecimento organizativo profundo – visível, por exemplo, na incapacidade de apresentar candidatura em Santana ou na Ribeira Brava – e um afastamento crescente do seu eleitorado. Parece existir um efeito dominó desde janeiro de 2024, que condiciona a mobilização do PS e transmite uma mensagem reativa em vez de uma postura séria, de liderança.

Esta mutação silenciosa é particularmente significativa porque sugere, com maior nitidez neste ato eleitoral, que PSD-M e PS-M mantêm-se no centro do sistema autárquico, mas a sua força deixou de assentar essencialmente na sua história e sigla partidária. Em contexto autárquico, o candidato e a sua equipa contam cada vez mais – para o bem e para o mal.

Não se trata apenas de competência para gerir uma autarquia, mas de confiança política, de credibilidade perante os eleitores, de ter capacidade (ou não) para cumprir as promessas feitas e, acima de tudo, de humildade – de saber que “o povo é quem mais ordena”.

A palavra de ordem, para todos os atores políticos eleitos, é humildade política – não apenas como virtude moral, mas como condição prática para permanecer relevante num sistema político em mutação.

É preciso humildade para compreender o que aconteceu em São Vicente e na Ponta do Sol – e, sobretudo, é preciso agir antes que as fissuras se transformem em ruturas.

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