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Artigo de Opinião

23/12/2025 08:00

Para a maioria das pessoas, o Natal é um tempo de pausa. Um tempo de família, de reencontros, de mesas cheias e de feriados e tolerâncias de ponto. É a época das casas iluminadas, dos abraços repetidos, das histórias contadas ano após ano e da ilusão coletiva de que, por alguns dias, o mundo acalma.

Para quem veste a farda, o Natal é diferente. Não é pior. Mas é diferente.

No Comando Regional da PSP, dezembro não abranda, intensifica-se. As ruas enchem-se, o trânsito torna-se mais denso, os eventos multiplicam-se e a ilha recebe milhares de visitantes. Com esse aumento de movimento surgem também mais riscos, mais excessos e mais situações que exigem atenção permanente. E, quando tudo isso acontece, há uma certeza absoluta: alguém tem de estar disponível para garantir que a normalidade festiva não se transforma em desordem, acidente ou tragédia.

Vestir a farda na quadra natalícia não é um ato heroico. É um ato profissional. Enquanto muitos ajustam a gravata para a fotografia de família, outros ajustam o colete, a arma, o rádio e a responsabilidade. Enquanto uns afinam o forno, outros afinam procedimentos, verificam equipamentos e contam quilómetros de patrulha por toda a ilha da Madeira. Trabalha-se na Consoada, no dia 25, no dia 31 e, muitas vezes, no primeiro dia do novo ano. Não nos habituamos a perder momentos importantes; aprendemos apenas a geri-los.

Na Madeira, como em qualquer outro ponto do país, o Natal traz mais pessoas, mais consumo, mais álcool, mais distrações e mais conflitos. O policiamento nesta altura não se faz apenas de presença visível. Faz-se de antecipação, prevenção, mediação e gestão de risco. Faz-se de decisões rápidas, tomadas com critério e serenidade, mesmo quando o cansaço pesa e a cabeça já devia estar noutro lugar.

Cada evento público implica planeamento rigoroso. Cada festa exige segurança. Cada multidão requer controlo discreto. Antes de qualquer celebração houve quem avaliasse riscos, verificasse acessos, articulasse meios e definisse prioridades. A maioria das pessoas nunca vê esse trabalho e ainda bem. Significa que tudo correu como devia.

Este ano, essa exigência ganha forma muito concreta. Estarei de serviço na Noite do Mercado, uma das expressões mais intensas e marcantes da identidade madeirense. Uma noite vivida com alegria, tradição e intensidade, mas que exige atenção permanente, coordenação fina e capacidade de decisão constante. Poucos dias depois, voltarei a estar de serviço como Oficial de Dia, em regime de 24 horas, assegurando a coordenação e a resposta operacional numa fase em que a Região continua num ritmo elevado. E, na noite de Réveillon, enquanto milhares celebram, brindam e contam os segundos para a chegada do novo ano, estarei, como tantos outros colegas, a garantir que essa celebração decorre com segurança, ordem e tranquilidade. Não o digo como queixa, mas como constatação: faz parte da missão.

E não estamos sozinhos. Nos hospitais, nos quartéis de bombeiros, na hotelaria, nos transportes, na proteção civil e noutros serviços essenciais, há profissionais que trocam a ceia pelo serviço, garantindo que a ilha nunca para. A Madeira só consegue celebrar porque há quem continue de serviço.

Há, contudo, uma realidade que não pode ser ignorada: os constrangimentos de recursos humanos existem. Sentem-se nas escalas, nas equipas reduzidas, na acumulação de funções e no desgaste que não aparece nas estatísticas. A média de idades sobe, as exigências não diminuem e as tarefas multiplicam-se. Ainda assim, o serviço é feito, não apenas por obrigação, mas por compromisso.

Pouca gente imagina o que vai na cabeça de um polícia na noite de Natal ou de Fim de Ano. Enquanto conduz, pensa na cadeira vazia em casa. Enquanto atende uma ocorrência, pensa na conversa interrompida. Enquanto regula o trânsito, pensa no jantar que ficou por provar. Mas continua. Continua porque sabe que alguém precisa dele ali.

O nosso Natal é diferente. É feito de fardas, escalas, frio noturno, refeições rápidas, responsabilidade e silêncio profissional. E merece respeito.

A todos os que servem quando os outros festejam: obrigado.

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